As viúvas mal tiveram tempo de chorar. Não eram poucos os que lamentavam o fechamento do Armazém Santo Antônio, uma das melhores cozinhas de Curitiba nos últimos tempos. Aberto em 2000 e especializado nos sabores brasileiros, não foi de graça que colecionou alguns títulos de melhor restaurante regional na escolha dos jurados da revista Veja e que também levou o laurel na primeira edição dos melhores da revista Gula na cidade.
Mas o Armazém Santo Antônio esteve por desaparecer na metade do ano passado e isso só não se consumou graças ao empenho de dois apaixonados pela gastronomia e pelo bem comer. Preocupados com o futuro da casa ? que correu até o sério risco de transformar-se em mais uma dessas tantas pizzarias existentes na cidade -, Ari Perez e Danilo Maia decidiram encarar o negócio para poderem exibir, orgulhosos, a faixa de ?sob nova direção? ao empreendimento.
E aí, após um breve período de reforma, o Armazém Santo Antônio está de volta, com mudanças na decoração e serviço, mas com a mesma qualidade em seus pratos, que variam em diversas opções de carnes, peixes, massas e saladas. Antigos clientes, os novos proprietários estão empenhados em manter a credibilidade do restaurante. ?O Armazém já é conhecido pela qualidade de seus pratos. Por isso, as mudanças que fizemos não interferem na ?alma? da casa. Reformamos a cozinha, que ficou mais ampla e equipada, fizemos um deck, um local para espera e banheiros no andar térreo?, explica Perez.
O projeto arquitetônico, que preserva a casa centenária, é assinado por Mônica Beliche. Foram feitas mudanças na iluminação e colocados alguns itens de conforto no salão. ?Poucas alterações no imóvel, porque o prédio de 1870 é tombado pelo patrimônio histórico?, conta Perez.
Os empresários foram buscar nos detalhes o segredo para manter a qualidade do serviço. ?Tudo sofreu alterações, mesmo que pequenas. Alguns temperos em certos pratos foram adicionados, novos talheres e pratos foram comprados?, completa Maia. Mas o detalhe mais charmoso está em baixo das mesas. Em cada ponta da mesa, existe um pequeno gancho, que serve para as mulheres pendurarem suas bolsas. ?Bolsa às vezes é um problema para as mulheres. Ou a cadeira não consegue segurar a bolsa ou alguém passa e derruba no chão?, comentam.
?Nosso objetivo é que o cliente entre aqui e sinta-se em casa?, enfatiza Perez. E a busca pelo cuidado no tratamento com os clientes já deve começar desde a chegada ao local. ?A primeira recomendação que fizemos ao manobrista é que ele seja atencioso e prestativo e anote o nome do nosso cliente. A idéia é que, na próxima vez que o cliente voltar, ele já seja chamado pelo nome?, explana Maia.
A quase totalidade dos pratos servidos anteriormente continua no cardápio, executado a partir da experiência de anos de casa da cozinheira Vânia Borges. Como o Bolinho caipira picante, feito com massa de mandioca e recheado com um creme de milho e que, servido de entrada ou mesmo como petisco, abre o apetite de qualquer um. Entre os pratos principais, o campeão de vendas permanece no pedestal: Carne de sol com risoto de abóbora, uma iguaria colorida, que combina a carne de sol desfiada com o risoto e uma cebola caramelizada com açúcar.
Mas a nova direção da casa propõe alguns pratos surpreendentes, como a grande novidade que um lombo de bacalhau altíssimo, importado diretamente de Portugal e que ganha tempero simples o suficiente para realçar o sabor do peixe. Há também um nhoque com camarão, rúcula e tomate seco que sequer ganhou nome, mas já pode ser servido mesmo sem constar do cardápio. Nos fins de semana abre também para almoço, oferecendo feijoada aos sábados e a opção entre moqueca e barreado aos domingos.
Sempre obedecendo às raízes, como na idéia do toque final com um Suflê de goiaba, que chega à mesa ainda morno e coberto por um creme de catupiry. Em outras palavras, goiabada com queijo, nada mais brasileiro.
O cardápio é enxuto, mas atraente. A carta de vinhos é interessante mas ainda vai melhorar e o ambiente é muito agradável, dando a impressão de estarmos à mesa na casa de nossos avós. Exatamente como era a proposta da casa, enriquecida agora com as melhorias efetuadas e com as novas idéias implantadas pelos novos proprietários. Presença obrigatória.
Bom apetite!
Serviço
O Armazém atende de terça-feira a sábado, das 20h às 23h. Almoço aos sábados e domingos, das 11h30 às 15h.
Rua Solimões, 344 ? São Francisco. Fone: (41) 3077-5505.
Carne de sol com risoto de abóbora e cebola caramelizada
Por Vânia Borges, cozinheira do restaurante Armazém Santo Antônio
Carne de sol
Ingredientes:
250g de carne de sol (desfiada)
3 colheres (sopa) de cebola ralada
2 colheres (sopa) de azeite de oliva
Coentro e cheiro verde
Pimenta-do-reino (moída na hora, de preferência)
Modo de fazer:
Dessalgue a carne e cozinhe na panela de pressão por 40 minutos. Desfie a carne enquanto estiver morna.
Frite no azeite de oliva três colheres de cebola ralada e coloque a carne, um pouco de coentro, pimenta a gosto e cheiro verde.
Risoto de abóbora
Ingredientes:
200g de abóbora de pescoço bem madura cortada em pedaços pequenos
4 colheres de óleo
2 colheres (sopa) de cebola ralada
150g de arroz arbóreo.
¼ de xícara de vinho branco
Caldo de frango aquecido
Para finalizar três colheres de queijo ralado e duas colheres de manteiga
Modo de fazer:
Aqueça a cebola no óleo até murchar. Junte o arroz e a abóbora e refogue por um instante. Despeje o vinho branco e deixe reduzir. Vá adicionando o caldo de frango aos poucos, repondo à medida que for secando. Cozinhe até o arroz ficar ao dente. Para finalizar, junte o queijo ralado e a manteiga e mexa bem, para que incorpore e ganhe brilho.
Cebola caramelizada:
200g de cebola ralada ou cortada em tiras
1 colher de açúcar, duas colheres de azeite de oliva
2 colheres de óleo de soja
Misture todos os ingredientes em uma panela. Faça em fogo baixo até dar ponto.
Rendimento: 2 porções.
Bolinho caipira picante
Por Vânia Borges, cozinheira do restaurante Armazém Santo Antônio
Ingredientes:
1 kg de mandioca
40 g de manteiga
300 g de farinha de trigo
Sal e pimenta a gosto
2 latas de milho verde
2 ovos
2 colheres de sopa de creme de leite
4 colheres (sopa) de maisena
leite
Massa
Cozinhe 1 kg de mandioca com sal a gosto, depois esprema e deixe esfriar bem. Coloque na massa os ovos e a farinha de trigo e amasse bem.
Recheio
Coloque as duas latas de milho (uma com água e outra sem). Bata no liquidificador a manteiga, o creme de leite e a maisena desmanchada no leite. Cozinhe tudo até desgrudar da panela. Coloque o recheio em um prato e deixe esfriar.
Modo de fazer
Faça pequenas bolinhas de massa e abra no meio para colocar o recheio. Após fechar as bolinhas, passe na farinha de trigo, no ovo e farinha de rosca. Agora é só fritar e está pronto.
Sugestão:
Você pode decorar o prato com catupiry.
* Os bolinhos podem ficar congelados por até dois meses.
Suflê de Goiaba
Por Vânia Borges, cozinheira do restaurante Armazém Santo Antônio
Ingredientes:
1 kg de goiabada
4 claras de ovos
Manteiga para decorar os potinhos antes de colocar a mistura.
Modo de fazer
Derreta a goiabada com um pouco de água em fogo brando, até virar uma pasta. Reserve.
Bata as claras em neve até que fiquem no ponto.
Junte lentamente as claras batidas até a pasta de goiabada com um garfo para ter esta mistura homogênea.
Coloque em um pirex até dois dedos abaixo da borda, pois ele cresce bastante.
Leve ao forno pré-aquecido (200 graus) por 10 minutos, até que cresça e fique ligeiramente dourado.
Derreta o catupiry com um pouco de leite, que deverá ser servido a parte e jogado em cima do suflê à vontade.
Rendimento: 6 porções.