Almoçar aos domingos nos restaurantes de Santa Felicidade é o contato mais próximo que muitas pessoas acreditam ter com a cultura italiana em Curitiba. Mas além da culinária, os imigrantes italianos, que aqui chegaram depois de 1870, também incorporaram os valores de uma família unida e muito religiosa à vida da cidade.

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O padre Ervino Vivian, da Paróquia São José, em Santa Felicidade, conta que os primeiros imigrantes italianos chegaram em Curitiba vindos do litoral paranaense, em 1876. Eles saíram da Itália em função da falta de trabalho e de oportunidades. A revolução industrial acabou com o artesanato, atividade pela qual muitos sobreviviam e estas famílias não foram absorvidas pelas indústrias. Outro fator que desencadeou a sua saída foi a unificação da Itália. Os mais poderosos econômica e politicamente tomaram conta das terras. Com efeito, muitas famílias passaram a trabalhar para os proprietários, dividindo a renda que conseguiam, outras ficaram na miséria.

De acordo com o padre, a Igreja não queria que os italianos saíssem do país, mas estes argumentavam que, ou migrariam ou precisariam roubar. ?Isso quebrou laços familiares, tradições e aspectos religiosos. Os imigrantes vieram sem idéia do que iriam encontrar?, comenta. Vivian explica que muitos ficaram atraídos com a possibilidade de terem terras próprias e de fazerem fortuna. Além desse cenário, o governo brasileiro também tinha interesse em incentivar a imigração. Era necessário povoar o território após a declaração de independência do país.

Agricultura de subsistência e restaurantes

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Os italianos que vieram para o Sul do Brasil, principalmente da região de Veneto (norte da Itália), ganharam lotes de terra e sementes para que se instalassem nesses locais. Ficaram no litoral, mas o calor, os mosquitos e a baixa qualidade do solo não permitiram a adaptação. ?Aos poucos eles foram subindo a serra, pois era permitido mudar duas vezes o local do assentamento. Começaram a se instalar em Curitiba e em outras cidades, como Colombo e Pinhais?, revela o padre.

Um grupo de famílias, enquanto aguardava o novo assentamento, andou pela região e descobriram que terras estavam à venda onde hoje são os bairros Cascatinha e Santa Felicidade. Aqueles que trouxeram algumas economias se juntaram e partiram para uma colonização particular. Dividiram a área em lotes e distribuíram entre as 14 famílias que haviam se unido nesta empreitada. ?Depois, vieram mais famílias que compraram outros lotes na região?, destaca Vivian.

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Os novos habitantes começaram com uma agricultura de subsistência e depois passaram a fornecer produtos para a cidade. Esse comércio era a principal fonte de renda até 1930, quando surgiram os primeiros restaurantes de comida italiana. ?Os restaurantes surgiram quando os italianos começaram a desenvolver mais suas tradições e influenciaram a culinária da cidade?, lembra o padre. Até hoje os curitibanos se rendem aos encantos da comida típica italiana e parece que este fascínio pelo frango, pela polenta e pelas massas vai continuar por muito tempo. Apesar de existirem diversos restaurantes dessa origem espalhados por Curitiba, é em Santa Felicidade que os habitantes da cidade mais se identificam com a tradição de se sentar à mesa e desfrutar a arte de mangiare bene.

Contribuições constantes

Nem todos os imigrantes italianos que chegaram em Curitiba se instalaram em Santa Felicidade. Em qualquer bairro da capital paranaense é possível encontrar os oriundi, como são conhecidos. Aqueles que escolheram Curitiba, não importando em qual região da cidade decidiram morar, fizeram questão de manter a tradição da união das famílias, das festas, do cultivo da uva e da produção de vinho. ?A manutenção dos costumes fez com que as tradições entrassem no gosto da cidade e influenciassem o jeito de ser de Curitiba?, avalia o padre Ervino Vivian, da Paróquia São José.

Segundo o diretor-executivo do Centro de Cultura Italiana no Paraná e em Santa Catarina, Luigi Barindelli, os alemães, os poloneses e os ucranianos já estavam instalados em Curitiba antes da vinda dos imigrantes italianos. ?Está claro que existe um peso importante das outras etnias que chegaram antes. Os italianos acabaram ocupando o espaço da comida, mas também encontramos muitas famílias com descendência italiana no comércio e na indústria?, frisa.

Barindelli acredita que a contribuição da comunidade italiana para Curitiba é constante. Um exemplo disso é a intenção de fazer da cidade um centro das tecnologias agroalimentares para o Mercosul. ?Em Parma (região Norte da Itália), funciona o centro de segurança dos alimentos para a União Européia. Uma delegação italiana vem para o Brasil para discutir o projeto da criação deste centro em Curitiba, baseado no modelo de Parma. Esta é mais uma contribuição italiana para a cidade?, classifica. A comitiva chega daqui a três semanas.

Costumes são repassados para as futuras gerações

Após 140 anos de imigração, as tradições italianas fazem parte integrante da cultura brasileira. Mas será que os descendentes dos que se aventuraram e vieram para cá enfraqueceram suas tradições? O diretor-executivo do Centro de Cultura Italiana no Paraná e em Santa Catarina, Luigi Barindelli, responde que não.

Ele conta que o período entre o governo de Getúlio Vargas e a queda da ditadura foi de muita repressão para os italianos. Nesse período, duas gerações de brasileiros ficaram impossibilitados de expor suas tradições. Mesmo assim, as famílias de descendência italiana conseguiram manter suas raízes. ?A terra brasileira semeou bem essa cultura. Aceitou no começo de tudo, permitindo esse enraizamento?, opina.

Muitos descendentes italianos tentam manter suas tradições com os grupos folclóricos. Os integrantes dançam, cantam e vestem trajes típicos. Tudo para tentar lembrar da terra de origem, matar a saudade e transmitir os costumes para as futuras gerações. Rosi Dalla Stella, do Gruppo Folklorístico Giardino D°Amuri, de Santa Felicidade, explica que o grupo, formado por 80 integrantes, se reuniu há cinco anos por amor às tradições italianas. Para ela, os costumes estão se perdendo com o passar dos anos. ?A gente faz isso por amor à pátria mãe de nossos antepassados. Mas muitas coisas, principalmente, a união das famílias foi sendo esquecida?, comenta, salientando que a mistura com outras etnias também é uma responsável por isto.

Polenta na tábua e uvas amassadas com os pés

Rosi nasceu e sempre morou em Santa Felicidade. Quando jovem, participava de reuniões em que todos cantavam, tomavam vinho e comiam polenta e queijo. A polenta era cozida em tachos de ferro, depois era despejada em tábuas e cortada com fios. Estava pronta para comer. ?Essa maneira de fazer a polenta foi se perdendo. Até mesmo o fubá já não é mais o apropriado. Antigamente, as famílias plantavam milho para moer?, relembra.

Na casa dela, seu pai ainda produzia vinho. Todos eram convidados a amassar as uvas com os pés. ?Eu ainda peguei a fase de amassar com o pé. Dizia-se que o vinho saia bom porque se colocava amor no pé?, conta Cláudio Roberto Dalla Stella, filho de Rosi. ?Sinto falta da reunião das famílias. Éramos humildes, mas sempre unidos. Antigamente, se compartilhava mais. Hoje cada um vai para um lado?, lamenta Rosi.

No grupo folclórico, ela e o filho (responsável pelas coreografias) tentam manter as danças, as músicas e os trajes mais fiéis possíveis com a origem italiana. Com um material e fitas de vídeos adquiridos na Itália, eles mesmos fabricam roupas, sapatos e instrumentos musicais para os ensaios e apresentações. ?É um trabalho enorme. A partir das fitas de vídeo, tentamos reproduzir os trajes e as danças. Tivemos que aprender a costurar e cortar as roupas. Não tivemos o apoio de ninguém?, reclama Cláudio. ?Mesmo assim, está valendo a pena?, completa Rosi.

Risoto all pesto rosso

Ingredientes:

2 xícaras de arroz arbório.

2 colheres de sopa de manteiga.

2 colheres de sopa de cebola picada.

1 dente de alho picado finamente.

1/2 xícara de vinho branco.

60 g de tomates secos.

150 g de queijo brie.

1,5 litro de caldo de frango.

2 xícaras de rúcula picada.

sal e pimenta do reino.

Modo de Preparo:

Coloque o caldo de frango para ferver em uma panela. Em outra, coloque a manteiga e deixe derreter, acrescente a cebola picada e refogue até que a cebola esteja macia e transparente. Coloque o alho picado e refogue mais 1 minuto, coloque o arroz e misture bem, refogando por cerca de 1 minuto. Regue com o vinho branco e mexa regularmente até que todo o vinho tenha sido absorvido. Vá acrescentado o caldo (fervente) ao risoto, coloque concha a concha, esperando cada concha de caldo ser absorvida antes de acrescentar a próxima. Vá repetindo essa operação até que o arroz esteja "al dente", cerca de 15 minutos. Bata em um liquidificador os tomates secos com um pouco de caldo, para obter um creme bem liso de tomates secos. Acrescente esse creme ao risoto e misture bem, acerte o sal e pimenta-do-reino e cozinhe sem parar de mexer por mais 3 ou 4 minutos. Teste o ponto do arroz e se a mistura estiver bem cremosa, apague o fogo, acrescentando o queijo brie cortado em cubos e metade da rúcula picada. Misture bem para que o queijo derreta. Coloque em uma travessa e cubra com a rúcula restante e buono apetito.