O próprio ministro da Fazenda, Antônio Palocci, admite que a arrecadação cresceu além do previsto este ano. A folga já contabilizada e anunciada formalmente é de qualquer coisa em torno de doze bilhões de reais – uma montanha de dinheiro. O sucesso se deve principalmente ao aumento da carga tributária, tendo à frente a Cofins – Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social, cuja alíquota mais que dobrou num só golpe, mas também, segundo Palocci, ao crescimento da economia. Esta nem cresceu tanto quanto o governo quer fazer parecer ver, mas a propaganda é, sempre, a alma do negócio.
O presidente Lula está rindo à toa. Se as coisas vão bem no Planalto, de cofre cheio como nunca, na planície também devem seguir o mesmo caminho, raciocina ele. Então, que tal aproveitar o dinheiro que sobra e pagar mais um pedaço da nossa impagável dívida? É assim que faz uma família responsável, ensina. Aliás, revela que ele e Marisa nunca compraram nada a prestação porque odeiam dívidas. Na verdade, todo mundo odeia. E o presidente sabe que não apenas os imprevidentes devem. Às vezes não tem outro jeito.
Mas vamos lá. Com o fomento das boas notícias acerca da economia, todo mundo em Brasília acha uma forma de tirar vantagem. O ministro do Trabalho, Ricardo Berzoini, por exemplo, entende que o crescimento da taxa do desemprego no País se deve exatamente às notícias alvissareiras que servem também de argumento no palanque eleitoral. Seu raciocínio é linear: boas notícias sobre o reaquecimento da economia tiram o pessoal de casa. Reanimadas, as pessoas saem em busca de emprego, aumentando, assim, as estatísticas dos desempregados. É paradoxal. Quer dizer: não é o desemprego que é maior; é o governo que só consegue rastrear quem procura emprego. Desempregado que fica em casa não conta.
A notícia ruim para todos quantos vivem do suor do próprio rosto seria essa da redução do poder aquisitivo (ou da receita média) dos trabalhadores. Mas isso são outros quinhentos. Coisa para depois. Não vale a pena queimar discurso em cima de argumento que não rende voto. A propaganda positiva é, sempre, a alma do negócio.
Segundo o presidente Lula, o maior propagandista de seu governo, o que vale a pena mesmo é pagar dívidas. “Em vez de – vejam o que ele diz – jogar dinheiro fora, pelo ladrão, como se faz habitualmente, atendendo emendas, fazendo qualquer coisa, vamos aumentar o superávit.” Na verdade, faz tempo que o superávit orçamentário conta mais que os buracos nas estradas, mais que a falta de segurança no campo e na cidade, muito mais até que o próprio desemprego de milhões de brasileiros. Ou mesmo a própria fome – outrora a prioridade absoluta do governo que aí está. “Pelo menos – volta-se ao discurso presidencial – nós diminuímos a dívida que temos, vamos pagar alguma coisa a mais do que estamos devendo.” Os credores agradecem…
Parênteses: Que estarão pensando dos novos conceitos presidenciais os deputados e senadores que apostam nas famosas emendas parlamentares ao orçamento da União parte de todo o trabalho que desenvolvem em benefício de suas comunidades, as ditas bases? Que se entendam diretamente com o presidente.
Dias atrás, o ministro Luiz Fernando Furlan, do Desenvolvimento, Indústria e Comércio e dos mercados exteriores, advogava que o governo precisa ter um olho grande para o mercado interno, onde vivem brasileiros e brasileiras também com ânsia de felicidade. Em seguida, a equipe econômica aumentou a taxa do juro básico, a chamada Selic, com medo do aumento do (sub)consumo interno. Na outra ponta, o ministro Palocci, da Fazenda, lançava o programa Invista Já, embalado na pífia antecipação da devolução de tributos. Que tal se o governo resolvesse, de fato, além de pagar dívidas, incentivar a produção, o consumo e a geração de empregos?
