A agonia do Senado

Pode ser que o Senado consiga montar o seu Conselho de Ética para apreciar ou encerrar, ?ab initio?, o caso Renan Calheiros. Mas parece muito difícil, pois há sérias denúncias contra o novo presidente e não se consegue um voluntário para ser relator. As tentativas até agora feitas foram tapeações para ensaiar um castelo de cartas marcadas para dar o presidente Renan como inocente. E ele é quem dirige o circo, inclusive o espetáculo das simulações do seu próprio julgamento. Renato Casagrande (PSB-ES), mais um dos convidados para ser o relator do Conselho de Ética (ou falta de ética) e desconvidado a seguir, quando perceberam que tinha vontade de ver um mínimo de decência no trato do caso Renan, foi o mais feliz na definição do que precisa acontecer e o que pode acontecer no Senado. Para ele, não há outro caminho senão o ?aprofundamento das investigações?. Do contrário, ?vamos continuar matando o Senado aos pouquinhos? e Renan Calheiros ?vai enterrar a vida pública dele?.

Se ao povo fosse permitido resolver a questão, a forma mais simples seria fechar o Senado para balanço. Ou definitivamente, já que tem produzido mais escândalos que leis e ações no interesse público. Acontece que a manutenção da democracia exige o tripé de poderes. Temos de ter ou agüentar o Executivo, o Legislativo e o Judiciário, sob pena de cairmos numa ditadura. E as ditaduras sempre foram regimes piores do que as mais frágeis e defeituosas democracias.

A solução seria uma profunda reforma política, mas esta é uma esperança que se esvai, embora tenha sido promessa de Lula, do novo presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia, e aspiração de alguns poucos parlamentares de bom senso e honrados. Os temas mais cruciais dessa reforma, como a sobreposição dos partidos ao rol de candidatos, já foram para a ?cucuia?. Os deputados votam nos seus próprios interesses. Querem deixar tudo como está, para ver como é que fica. Talvez se faça uma reforma política parcial, o que já é um começo. Pelo menos um ponto parece que será integral ou parcialmente aprovado: o financiamento público das campanhas eleitorais. O nosso dinheiro pagando as propagandas dos candidatos. Que ótimo!

Tratando do ?Renangate?, a gente até se esquece do caso em si, já que os desdobramentos das frágeis tentativas de apreciá-lo e julgá-lo vêm se transformando em novos escândalos que ganham enredos e vida própria. Mas, relembremos que no Senado Federal brasileiro, a mais solene e impoluta casa do Congresso Nacional, seu presidente, o alagoano Renan Calheiros, tinha uma amante. Aí, uma estória vulgar, pois outros políticos sabida ou supostamente também têm amantes. Desse relacionamento extraconjugal nasceu uma filha. A paternidade foi reconhecida e uma pensão ajustada extrajudicialmente, ao que se saiba. Os pagamentos foram feitos de forma um tanto irregular em termos de valores. O problema surgiu quando se duvidou da origem do dinheiro. Foi provado e comprovado que quem pagava as pensões, quase sempre em dinheiro vivo, pois a turma não confia nos bancos e nos cheques, era um lobista de uma grande empreiteira, com negócios inúmeros e enormes com o governo.

Renan, que conduz o feito e faz sua própria defesa, não admitindo que ela seja questionada, insiste que o dinheiro era seu, resultado da venda de gado de suas seis fazendas. Ele é um fazendeiro de extraordinário sucesso, pois enquanto outros criadores de gado, mesmo em regiões onde não há a suspeita de febre aftosa, como em Alagoas, conseguem alguma coisa em torno de 15% de lucro, ele escancarou um ganho de 60%. Os especialistas dizem que isso é impossível, esquecendo-se que vaca de senador é como vaca de presépio. Atua num meio onde os milagres são possíveis.

Assim, vamos acabando, como previu o descartado relator senador Renato Casagrande, com o nosso Senado. E há quem já ache que não fará falta. E Renan, que dizem estar sonhando com sua candidatura a vice-presidente numa chapa peemedebista nas futuras eleições, poderá estar enterrando essa ambição política.

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