Lisboa – Apesar de cerca de 80 mil brasileiros viverem em Portugal, apenas 6.431 vão votar nas eleições presidenciais deste domingo, nos dois locais de votação, em Lisboa e no Porto. Portugal é o segundo maior colégio eleitoral no exterior, só ficando atrás dos Estados Unidos, que tem 22 mil eleitores. No exterior, os eleitores votam unicamente para presidente. Grande parte dos brasileiros que moram no país não sabia da necessidade de recadastramento eleitoral. “O telefone da Casa do Brasil não pára de tocar com gente querendo votar sem ter transferido o título para Portugal. Na sexta-feira à tarde, só eu já atendi mais de 10”, diz Sarah Negreiros, da direção da associação de brasileiros em Portugal. Nos locais de reunião de brasileiros em Lisboa, a maior parte acredita que vai poder votar. “Eu vou lá na embaixada no domingo para votar”, dizia na quarta-feira Ubiratan Sousa, um pedreiro de Governador Valadares no bar Oficina, na Costa da Caparica. Quando soube que sem transferir o título não podia votar, Ubiratan, que está há três anos em Portugal, reclamou: “Eu me sinto constrangido. Tenho 43 anos e já estou numa idade em que sei o que é o certo e o que é errado para o Brasil”. A transferência de títulos começou em março e terminou no dia 8 de maio nos consulados brasileiros. “É necessário muito tempo para preparar as eleições no exterior. É mais complicado do que no Brasil, por isso o prazo é mais curto”, justifica o cônsul-geral do Brasil em Lisboa, Alfredo Tavares. Nestas eleições, o único candidato a presidente que conseguiu ter um grupo organizado de apoiantes em Portugal é Lula. O PT promete ter uma boca-de-urna intensa em Portugal: “Recebemos mais de 100 telefonemas de simpatizantes querendo ajudar na eleição, além dos 45 militantes”, diz Moisés Espírito Santo, do núcleo do PT de Lisboa. O objetivo do PT é reverter o quadro de todas as eleições presidenciais em que os brasileiros puderam votar no exterior. Ao contrário do que acontece em outros países europeus, o PT sempre perdeu em Portugal. “Acho que os imigrantes brasileiros em Portugal estão mais integrados à comunidade e têm os mesmos receios dos portugueses em relação a um governo mais à esquerda”, justifica Moisés. Em 1998, dos 3.556 cadastrados para votar em Portugal, apenas 1.551 apareceram – no exterior o voto não é obrigatório. Fernando Henrique Cardoso ganhou com 1.089 votos, (70,2%), Lula ficou com 300 (19,3%), Ciro, com 73 (4,7%) e Eneas, com 26 (1,7%). Apesar do número reduzido de eleitores, nenhum dos 11 candidatos deixou de ter pelo menos um voto em Portugal. O cônsul em Lisboa – que cumpre as funções de juiz eleitoral – promete evitar a campanha de boca-de-urna dentro da embaixada, o local da votação na capital portuguesa. “Se utilizarem o espaço da embaixada, eu chamo o segurança e mando pôr para fora”. A dificuldade é que fora do espaço da embaixada, o poder do cônsul brasileiro acaba. “Se estiverem fazendo boca-de-urna na porta, vou conversar para que façam dentro da lei, a pelo menos 100 metros do local da votação”. A quantidade de pessoas para boca-de-urna é tão grande que o PT de Lisboa planeja enviar um grupo de militantes que não se cadastraram para pedir votos em Madri, a 600 quilômetros de distância. O principal semanário português, o Expresso, diz que uma “onda vermelha varre o Brasil”. Segundo o jornal, o apelo de Lula é uma mistura de paixão, emoção e estratégia política. Para a correspondente do jornal, o que distingue a campanha de Lula das outras é que os militantes do petista fazem sem receber por isso, enquanto para os outros candidatos é um bico. Citando o jornal O Estado, o jornal Público explica a vantagem de Lula com base no marketing. Diz que hoje Lula é a segunda marca mais conhecida no Brasil depois da Coca-Cola. O Diário de Notícias, outro dos jornais de referência do país, afirma que o debate eleitoral não mudou as intenções de voto. Para o jornal, nem mesmo os erros de Lula – de português e a ignorância a respeito da Cide – atrapalharam, porque “a força do candidato do PT está no apoio do povo e não em grandes conhecimentos técnicos”.
6.431 brasileiros votam em Lisboa e no Porto
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