O raciocínio é lógico e linear: se não existissem problemas com a aplicação dos recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) ninguém estaria preocupado com as investigações que estão em curso por parte da Controladoria Geral da União. Por isso, podem alguns candidatos concorrentes nesta eleição presidencial falar à vontade que, quanto mais falam ? é como areia movediça ?, mais arriscam enfiar-se no atoleiro.
Faz muito tempo que se ouvem, cá e lá, rumores a respeito de malversações de recursos oriundos do FAT, uma fonte portentosa de recursos ? equivalente ao que uma vez representava o depenado Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS). As investigações, na verdade, deveriam ter sido iniciadas bem antes, no começo do ano, conforme admite a própria ministra-chefe da Controladoria, Anadyr de Mendonça Rodrigues, tendo com base provocação oriunda do Tribunal de Contas da União. Independentemente, portanto, do fato de existirem candidatos ligados a organismos que usaram ou se beneficiaram dos recursos em tela.
Um desses candidatos ? Paulo Pereira da Silva, vice na chapa de Ciro Gomes – diz que a Controladoria está agindo de forma irresponsável e leviana. Em Curitiba, dias atrás, Anadyr disse não estar preocupada com as ameaças e insinuações que se lhe são feitas, da mesma forma que deixou claro também que a ação investigatória não tem por alvo esta ou aquela pessoa, mas a entidade (no caso, a Força Sindical), uma das responsáveis pela gestão dos recursos. Ao que se divulga, a Controladoria tem boas razões para verificar o que de fato aconteceu na aplicação desse dinheiro público: uma auditoria preliminar constatou 51.939 casos de repetição (utilização do nome da mesma pessoa mais de uma vez para o mesmo curso financiado com o dinheiro do FAT). Além disso, 93,33% das fichas de freqüência a esses cursos possuem algum tipo de divergência com os dados registrados no Sistema Integrado de Ações e Empregos do Ministério do Trabalho. Isso consta de relatório da Controladoria, que, em função dessas evidências, recomendou ao Ministério do Trabalho que não aprove as contas da Força Sindical na parte relativa à aplicação dos recursos do FAT, ao mesmo tempo em que pediu a suspensão de novos recursos até que as supostas irregularidades sejam esclarecidas.
Ora, se há dúvidas, se há suspeitas e baseadas em dados consistentes e aparentemente generosos, nada deve obstar a completa investigação para que reste também completamente fora de dúvida (ou não) a lisura de um processo financiado com recursos públicos, não importa qual o volume: se os 38 milhões de reais repassados, se os mais de doze milhões de reais que teriam sido pagos indevidamente pela central sindical a uma organização cooperativa a título de encargos sociais e coisas do gênero. E não se diga que é porque estamos em período eleitoral, com pessoas ligadas à área sindical nele envolvidas, que as denúncias existentes devam dormitar em alguma gaveta. Antes, é preciso que se vá até o fim e agora. Erro mais grave que a suspeita, contra a qual reverberam alguns, seria o silêncio ou a omissão para, lá na frente, descobrirmos que, de fato houve erro, má-fé, dolo, culpa ou qualquer outro aproveitamento de um dinheiro já gasto de forma às vezes duvidosa, como o são alguns dos cursos de formação realizados sem muito compromisso com a realidade. Diríamos que existem, no mínimo, 51.939 motivos para a dra. Anadyr continuar investigando.
