Era um 18 de dezembro… Às 20 horas… O ano, 1958… E o local, a Reitoria da Universidade Federal do Paraná… Naquele dia, 136 jovens bacharéis concluíam o curso de Direito pela Faculdade de Direito da Universidade Federal do Paraná. Muitos sonhos acompanhavam-nos. Alguns dos formandos ficaram em Curitiba mesmo.
Mas a maioria se embrenhou pelo interior do Paraná, de Santa Catarina, de São Paulo e do Rio Grande do Sul. Uns retornaram à sua terra natal e dentre eles eu fui um deles: após cumprir o período universitário, voltei para a minha Jacarezinho onde no início de janeiro de 1959, ainda na condição de “solicitador acadêmico” (equivalente hoje ao de estagiário) comecei para nunca mais parar o exercício da advocacia na Rua Coronel Baptista, rua em que até hoje permaneço.
Mas vindo para Jacarezinho guardei as lembranças de minha turma, dos 135 colegas e dos professores, com um carinho especial ao nosso Paraninfo dr. Altino Portugal Soares Pereira, exemplo de conhecimento, dedicação e seriedade e que por quatro anos seguidos nos ministrara aulas de Direito Civil, sendo inesquecível seu tímido pedido de silêncio à numerosa turma com a leve batida de seu anel sobre sua mesa de Catedrático.
Jamais me esqueci dos professores, das aulas memoráveis de medicina legal do dr. Napoleão Teixeira que, pai de um dos nossos colegas (João Régis Teixeira, prematuramente falecido) emprestou seu honrado nome à nossa Turma. Também ao Patrono dr. Hostílio César de Souza Araújo, queridíssimo de todos. E de cada um dos demais muita coisa poderia também dizer.
Era reitor da Universidade o dr. Flávio Suplicy de Lacerda, mais tarde Ministro da Educação e diretor da Faculdade o dr. Ernani Guarita Cartaxo, homem sério e respeitado. Só o vi sorrir uma vez, quando me outorgou o grau de Bacharel em Direito, e a ainda assim um sorriso discreto e formal.
Lembro-me que o local determinado para a colação de grau gerou muita discussão porque, em sendo a turma bastante numerosa e o auditório pequeno, cada aluno teve direito a apenas 3 convidados. Só puderam me acompanhar meus pais e a namorada da época.
Depois da cerimônia, o baile na Sociedade Thalia registrou de maneira permanente a nossa despedida, dos professores e funcionários, dos colegas e da Universidade.
Durante o curso participamos de movimentos estudantis, passeatas, greves, eleições para o Centro Acadêmico Hugo Simas CAHS com os partidos universitários (PAR, PAP e PDU) disputando as preferências dos acadêmicos.
Chegamos certa feita até mesmo a erguer uma parede na sala de entrada da Reitoria, com tijolos levados pelos acadêmicos, cada um levando um, e que foram sendo empilhados sem o rejunte de maneira tal que após alguns minutos ficou vedada aquela ampla porta, marcando um protesto por algum ato do Reitor.
Eram tempos em que os jovens iam às ruas falar de seu ideal, manifestar seu protesto e se programar para o futuro, seu e do nosso país.
50 anos, um dia…
As lembranças que me afloram hoje registram marcas de saudades e de recordações… Lembranças daqueles colegas que não puderam atingir esta marca memorável de nosso Jubileu de Ouro.
Recordações das brincadeiras em sala de aula, do Cafezinho Alvorada, do jogo de palitinho para ver quem pagava a conta, dos bedéis Bernardo Lopes e Graciliano Souza nos chamando para assinar a lista de presença de uma aula que o professor faltara, da secretária Laís Catarino.
Lembranças da Curitiba com a sua Cinelândia povoando-nos de sonhos, com os hóspedes do Grande Hotel despertando em nós uma inocente inveja pela imponência do prédio, com a Confeitaria das Famílias com seus doces ainda hoje maravilhosos, do Restaurante Schaffer em que os garçons tinham o seu salário pago pelos clientes através das gorjetas, do Restaurante Paraná na Rua XV ponto escolhido para nossos almoços quando sobrava algum dinheiro, do barzinho Cachorro Quente, ponto final de nossa jornada noturna, das tardes dançantes no Círculo Militar, da boate Boneca do Iguaçu (onde um dia fiquei com uma taça com a sua marca e que até hoje tenho em meu poder), das alunas do Colégio Estadual do Paraná paqueradas por nós, moradores da CEU.
Enfim, uma Curitiba que não existe mais e que foi o paraíso de nossa juventude… Tudo isso evocado agora em uma única data: 18 de dezembro de 1958! O dia em que 136 jovens tornaram-se advogados pela então única Faculdade de Direito do Paraná! 50 anos, um dia para ser mais ainda lembrado hoje, 18 de dezembro de 2008…
Celso Antônio Rossi é advogado em Jacarezinho da Turma de 1958 da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Paraná. Professor fundador da Faculdade Estadual de Direito do Norte Pioneiro (Jacarezinho) da qual foi diretor por dois mandatos. vice-presidente da OAB-Paraná, de 1995-1997 e 1998-2000.
