2005 e 1964

Em alguns círculos tem-se comparado a crise que hoje o País sofre com aquela de 1964, que levou ao golpe militar. Em nada se assemelham. Se semelhanças existem, é com o clima que levou ao ?impeachment? de Fernando Collor. Mas, mesmo aí, há uma diferença essencial: Collor era tido e havido como corrupto. Lula, não. Tem, até de seus adversários, confiança ou, pelo menos, o benefício da dúvida.

O paralelo entre as duas situações, Lula e Collor, foi provocado pelo movimento de protesto das esposas de militares que, em cerimônia da Marinha à qual Lula não se fez presente, em cartazes pediram o seu ?impeachment?. Suas razões são ponderáveis. Talvez nem tanto para uma providência drástica como o ?impeachment?, mas a verdade é que o governo prometeu solenemente um reajuste de vencimentos para as Forças Armadas e não cumpriu. Com isso, cai no descrédito, mas não do poder.

Quanto às comparações entre a crise de 2005 e a de 1964, elas têm fundos completamente diversos e até opostos. A de 1964 foi motivada, basicamente, por razões ideológicas. O grupo de centro e de direita e os militares não aceitavam um governo de esquerda, encimado por João Goulart. Hoje, o governo é, ou se diz ser, de esquerda, com Lula na Presidência, cercado em parte pelos mesmos homens que eram rejeitados, perseguidos e presos em 64. A esquerda está, pelo menos nominalmente, no poder e o centro, a direita e as Forças Armadas não contestam o sentido ideológico declarado do governo. Nem parece que contestariam, fosse efetivamente de esquerda. Mas esse esquerdismo tem se mostrado de mera ficção.

Hoje a crise não é ideológica, mas moral. Problemas morais certamente existiam em 1964. Àquela época, também havia roubalheira. Mas não ganhavam as manchetes como em 2005, quando os escândalos se multiplicam e envolvem o PT de Lula, seus aliados de outras legendas e mesmo ministros e autoridades do Partido dos Trabalhadores.

Vacinado, por enquanto, só Lula, embora já o acusem de inação e ingenuidade. Ele, há não muito tempo, havia dito que daria ao deputado Roberto Jefferson, presidente do PTB, até um cheque em branco. Hoje, todos sabem que ele não merece sequer um cheque sem fundos.

Os militares que promoveram o golpe de 1964, embora tenham sobejas razões para estarem descontentes, estão pacificamente enquartelados ou até aceitam missões de ajuda às autoridades civis, notadamente no campo da segurança pública e da saúde. Colaboram e reafirmam seus compromissos democráticos. Reafirmação que até se confirma quando não podem protestar contra o calote em seus vencimentos, apenas admitindo que suas esposas o façam, o que é um direito.

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