Completou-se um decênio, no último dia 19, do falecimento de Horácio Sabino Coimbra, empresário que deixou exemplos indeléveis de iniciativas criadoras e de extraordinária visão estratégica.
Ele fundou em Londrina, em 1952, o “NossoBanco”, Banco Nacional do Paraná e Santa Catarina, que se expandiu para São Paulo e Rio de Janeiro, chegando a 55 agências.
Inconformado com o fato do Brasil não exportar café solúvel, agregando valor à matéria prima (a Nestlé, única firma existente só vendia para o mercado interno), Horácio e outros pioneiros criaram em 17 de outubro de 1959 a Cia. Cacique de Café Solúvel, atraindo 523 acionistas, a maioria pequenos e médios cafeicultores do Norte do Paraná.
A fábrica foi inaugurada em 17 de abril de 1966 e, a seguir, travou-se a chamada “Guerra do Café Solúvel”, com a exigência norte-americana de que o produto fosse onerado com imposto, para não prejudicar as indústrias de lá, e o governo brasileiro viu-se compelido à taxação.
Com pragmatismo e habilidade de bom negociador, Horácio compôs-se em parceria com os industriais estadunidenses, que se tornaram importadores a granel do nosso café solúvel – de melhor qualidade que o deles -para fazer “blends” e vender aos consumidores com suas marcas tradicionais, e assim a “guerra” acabou…
Para não ficar dependente apenas da clientela norte-americana e européia, Horácio Coimbra – como um viajante vendedor à moda antiga – encheu a bagagem de amostras de café solúvel e se mandou para Moscou, na tentativa de abrir espaço na hermética e centralizada economia comunista. Fechou os primeiros negócios, perseverou em arremetidas constantes até que, a partir de 1984, a União Soviética tornou-se grande importador de café solúvel.
Em 1968, Horácio desfez-se do “NossoBanco” para concentrar energias na indústria, mas já em 1970, retornou à área financeira com a Cacique Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários, seguindo-se Cacique Financeira em 1995 e o Banco Cacique em 1989.
Irrequieto com a necessidade do país ampliar mercados, Horácio Sabino Coimbra achava inconcebível que o Brasil não mantivesse vínculos comerciais com a República Popular da China. Em 1971, obteve do governo militar sinal verde para ir à China em caráter sigiloso e não oficial, embora acompanhado na condição de “amigo” por Geraldo Holanda Cavalcanti, cônsul brasileiro em Hong Kong. Ele contatou com altas autoridades do governo e lançou a semente do restabelecimento das relações comerciais e diplomáticas Brasil-China, que viria a concretizar-se dois anos depois. A primeira delegação governamental chinesa, que chegou ao Brasil, solicitou ao Itamaraty apenas uma programação fora do script oficial: visita à residência do Horácio, para manifestar agradecimento ao seu gesto pioneiro de reaproximação.
Em vida, Horácio Coimbra recebeu várias honrarias: em 1971, Globo Ouro Exportação, entregue pessoalmente pelo presidente Emílio Garrastazu Médice; em 1972, título de “Homem do Ano”, Nova Iorque, conferido pela Câmara de Comércio Brasil-EUA; em 1974, Título de Cidadão Honorário do Paraná, outorgado pela Assembléia Legislativa e pelo governador do Estado; em 1978, Medalha de Ouro da Feira de Leipzig, à época República Democrática Alemã.
Após sua morte, sucederam-se consagradoras homenagens. Em 07.11.1997, a Prefeitura de Londrina, com aprovação da Câmara Municipal, ergueu Memorial, no Parque Industrial Horácio Sabino Coimbra, com mural artístico da rota do café, desde o plantio, colheita, industrialização e embarque nos navios. Instalado junto ao estabelecimento da Cacique, o memorial transformou-se em roteiro de visita de turistas.
No Parque de Exposição Pecuária Governador Ney Braga, em Londrina, instalou-se, em 02.04.2001, Pavilhão de Leilões e Eventos com seu nome e, finalmente, por iniciativa do então presidente da Federação das Indústrias do Estado do Paraná, o saudoso José Carlos Gomes Carvalho, foi inaugurado, com a presença do Governador Jaime Lerner, em 04 de junho de 2001, o “Centro de Exposição Horácio Sabino Coimbra”, passando a compor o Centro Integrado dos Empresários e Trabalhadores do Estado do Paraná (Cietep), localizado em sofisticada e aprazível região urbana de Curitiba.
Horácio Coimbra preparou seus filhos Sérgio e Cesário para comandarem os negócios após sua falta. Estimulou-os a trabalhar desde jovens em todos os setores da empresa e a fazer estágios e cursos de aperfeiçoamento, aqui e no exterior. A Cia. Cacique continuou com inovações importantes, destacando-se a construção e inauguração em Londrina, dia 30 de junho de 2000, de nova e moderna planta de café solúvel, sob o processo freeze-dried.
Personalidade carismática e líder inato, desprovido de preconceitos políticos e ideológicos, cultivador de amizades, Horácio Sabino Coimbra projetou-se além do seu tempo como empreendedor de sucesso e patriota, que sempre sonhou com um futuro de grandeza e prosperidade do Paraná e do Brasil.
Léo de Almeida Neves
é ex-deputado federal, ex-diretor do Banco do Brasil e autor dos livros Destino do Brasil: Potência Mundial e Vivência de Fatos Históricos.