Zero em ousadia

Malhação virou uma espécie de programa educacional. Temas como racismo, prevenção de acidentes e maus hábitos substituíram a trama espontânea e romanceada que dava o tom da produção tempos atrás. Nesta temporada, apesar do elenco principal mais inexpressivo da história do folhetim, é possível notar uma tendência na escalação: as atrizes e alguns dos atores são esteticamente perfeitos, o que mascara o escasso talento de suas atuações. Mas esta carência é suprida por nomes de peso, como por exemplo Antônio Pedro e Norma Blum, que interpretam os simpáticos Valério e Dionísia. A equação conteúdo versus beleza física equilibra os altos e baixos da trama, que se sustenta com os rasos 26 pontos de média com 49% de share aquém dos mais de 30 pontos de média da época da extinta banda fictícia Vagabanda, em 2005, que lançou nomes como a talentosa Marjorie Estiano, na pele da rebelde e carismática Natasha.

 Enquanto a história naquela época era embalada por acordes irreverentes e um texto ágil, atualmente Malhação se enterra num entediante didatismo. Em apenas um capítulo da trama é possível assistir a ?links? intermináveis sempre pautados por ?isso é certo e isso é errado?. Mais parecem trechos de campanhas educativas para jovens apresentados em escolas. Além da monotonia tomar conta dos assuntos, deve ser duplamente cansativo para os jovens em idade escolar ouvir as mesmas lições de moral do colégio num programa que deveria ser pautado principalmente pelo entretenimento.

Não se trata de condenar a relevância de abordar assuntos como violência no trânsito ou racismo, por exemplo. Mas uma pregação de cada vez seria mais diluível. Chega a ser constrangedor assistir a um diálogo entre Rafa e Cleiton, de Ícaro Silva e Fabrício Santiago, respectivamente, condenando o racismo. ?Nós saímos da senzala, mas os negros continuam sendo escravizados em subempregos?, resmunga o personagem de Fabrício, como se lesse uma bula de remédio.

Como se não bastasse a ?aula?, a próxima cena que poderia dar o tom romântico da trama, é ?naufragada? pela conversa de Eduardo e Franccesca, personagens de Gabriel Wainer e Fernanda de Freitas à beira da piscina. Quando ele a pega nos braços para um mergulho, a mocinha esperneia: ?Não! Devagar! Isso é perigoso. Cair de mau jeito pode causar acidentes graves?. É difícil perceber onde foi parar a espontaneidade de um texto que deveria ter um ?appeal? para agradar aos jovens. Mas, atualmente, mais parece um rigoroso e anacrônico sermão.

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