Zélia Duncan se transforma em personagens de Luiz Tatit

A cantora e compositora Zélia Duncan comemora 30 anos de carreira no palco. À primeira vista, nada mais natural para a artista que se sente muito à vontade ali e que, nesse meio tempo, já gravou sete álbuns de estúdio, além de ter feito registros de shows, participações especiais e projetos paralelos – aqui vale destacar sua presença na reunião dos Mutantes, em 2006, e na parceria com Simone em “Amigo é Casa” (2008), além do ecletismo sonoro de “Eu me Transformo em Outras”, de 2004.

Agora, porém, o desafio é ir além da performance musical e encarar o lado teatral do palco, como atriz. Zélia se transforma em personagens de canções do músico, compositor, escritor e acadêmico paulistano Luiz Tatit, no espetáculo “TôTatiando”, que estreia amanhã, 3, em curta temporada, até o dia 18 deste mês, no Sesc Belenzinho, em São Paulo.

O projeto serve de homenagem não apenas à Tatit, representante da chamada “vanguarda paulistana”, movimento cultural que despontou no final dos anos 1970 em São Paulo, e integrante do grupo Rumo, entre 1974 e 1991, mas também aos compositores paulistanos cantados por Zélia e à própria capital. “É uma maneira de dizer obrigada ao Luiz Tatit, à obra dele, e também à São Paulo, que sempre foi a cidade que mais me acolheu”, afirma ela.

Zélia gravou pela primeira vez uma obra de Tatit em 2004. Foi “Capitu”, em “Eu me Transformo em Outras”, que já havia sido interpretada por Ná Ozzetti. “Até então só ouvia muito, mostrava pros outros, tinha muito interesse nessas músicas, mas ainda não tinha começado a cantá-las.” No projeto com Simone, ela cantou “A Companheira”, canção com quase seis minutos de duração e um momento diferente do show. “Foi um prazer em decorar aquela letra, em contar aquela historia”, diz. Recentemente, foi a vez de “Felicidade”, no projeto “Pelo Sabor do Gesto em Cena”.

Sobre “TôTatiando”, Zélia já postou em seu twitter – que, aliás, é @zdoficial – que ele “não é show, mas é música”. Dramaturgia, iluminação, cenário, figurino, tudo no palco é referente a teatro. No ano passado, a cantora convidou a amiga e atriz Regina Braga para “fazer uma coisa meio maluca, meio teatral”, que aceitou e, assim, estreia na direção. “Estou muito feliz com o trabalho que estamos fazendo. Sempre fui admiradora da Zélia e estou ainda muito mais”.

Ao longo da peça, Zélia interpreta, ao estilo de canto falado de Tatit, personagens de 15 canções do compositor, além de citar outros textos dele, acompanhada em cena dos músicos Webster Santos e Tercio Guimarães. “As canções do Tatit dão sugestões teatrais e a gente trabalhou em cima disso”, comenta Regina.

Zélia se diz hesitante em se classificar como atriz e considera o trabalho como um “exercício de atuar”. “Sempre admirei e sei o quanto é bonita e árdua essa profissão de ator, mas me sinto à vontade de estar ali porque justamente eu a admiro profundamente”, diz ela, que no início da carreira chegou a atuar em peças e estudou na CAL (Casa das Artes de Laranjeiras), escola de formação de atores no Rio de Janeiro.

Já Regina, não tem dúvidas sobre o talento da cantora para a atuação. “A Zélia é claramente uma boa atriz. Eu brinco que ela tem de registrar o DRT (documento para exercer a profissão)”, diz. Para a diretora, Zélia tem uma qualidade fundamental de uma grande atriz, que é a “coragem de se jogar”. “Isso não acontece com todas as cantoras.”

Projetos

A preparação da estrutura do roteiro do espetáculo levou um ano. Já os ensaios se intensificaram apenas a partir do início de agosto, emendando com apresentações da turnê de “Pelo Sabor do Gesto em Cena” pelo nordeste, que terminaram em julho.

“TôTatiando” é um das três maneiras que Zélia escolheu para comemorar as três décadas de carreira. Entre elas está o lançamento do registro do show no Teatro Municipal de Niterói, terra natal da cantora, gravado em março deste ano, nos formatos de CD, DVD e Blu-ray – “Vou ter de comprar um aparelho”, brinca ela. “Estou superfeliz porque ele foi muito bem captado, foi um registro muito honesto, ninguém refez nada”, comenta. A apresentação conta com as participações de Marcelo Jeneci, Moska, Fernanda Takai e John Ulhoa (do Pato Fu).

O outro desejo é o tão aguardado – e cobrado – CD com as músicas de Itamar Assumpção, cantor e compositor paulista, morto em 2003, cuja obra está sempre presente nos trabalhos de Zélia. Segundo ela, o disco deve ficar pronto entre março e abril do ano que vem. O repertório? “Isso é segredo mortal”, diz ela, mas revela que duas ou três canções serão inéditas. Assim como foi com “Duas Namoradas”, parceria de Itamar com Alice Ruiz, gravada em “Pelo Sabor do Gesto” (2009) e também no projeto do show.

Serviço

“TôTatiando”

Sesc Belenzinho – Rua Padre Adelino, 1.00. Telefone: (11) 2076-9700. De 03 a 18 de setembro. Quintas, sextas e sábados, às 21 horas; domingos, às 18 horas. Ingressos: R$ 32; R$ 16 (usuários matriculados no Sesc e dependentes, acima de 60 anos, estudantes e professores da rede pública de ensino; R$ 8 (trabalhador no comércio e serviço matriculado no Sesc e dependentes) . Site: www.sescsp.org.br/belenzinho

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