Poucos foram os casos na música brasileira de artistas que fizeram tanta justiça ao título de multi-instrumentista como Zé Menezes. Considerado um dos maiores nomes da história dos instrumentos de cordas no país, o músico morreu na noite de quinta, 31, aos 92 anos, em Teresópolis, na região serrana do Rio, onde ele morava.

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Zé Menezes estava internado desde o dia 15 de julho, quando deu entrada no Hospital São José com dores abdominais. Embora não tenha divulgado a causa da morte, o hospital informou que o músico apresentou um quadro de insuficiência renal após um procedimento cirúrgico. Amigos do instrumentista dizem que há anos ele adiava uma cirurgia para a retirada de uma hérnia umbilical, mas que ultimamente ele não aparentava problemas de saúde.

Nascido em 1921, em Jardim, no Ceará, José Menezes de França começou a tocar cavaquinho ainda criança e, aos 8 anos, como ele costumava relembrar, se apresentou para Padre Cícero, interpretando Meus Oito Anos, de sua autoria. Três anos depois, ao ouvir aquela que seria sua maior referência ao longo de toda a vida, o também multi-instrumentista e compositor Garoto (Aníbal Augusto Sardinha), na Rádio Mayrink Veiga, Menezes encomendou ao luthier Angelo Del Vecchio um violão tenor dinâmico igual ao de seu ídolo.

Em 1943, contratado pelo diretor e radialista César Ladeira, ele foi para o Rio para atuar na Mayrink Veiga e substituir justamente Garoto, que assinara contrato com a Rádio Nacional. Assim como seu amigo e mentor, Menezes dominava mais de dez instrumentos de cordas, como violão tenor dinâmico, bandolim, cavaquinho, violão, guitarra havaiana, guitarra portuguesa e guitarra elétrica. Em sua casa, aliás, ele guardava com orgulho uma guitarra que ganhou de presente do amigo e guitarrista americano Les Paul.

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“Ele foi uma figura ímpar e muito importante na história da música brasileira, é uma perda muito dura para nós. Nos falamos há cerca de um mês. Era o último daquela geração, tocou com o Radamés, além de ser um excepcional compositor”, diz Paulinho da Viola.

Após passar por diversas rádios brasileiras, Zé Menezes foi contratado como diretor musical na TV Globo, onde escreveu composições para musicais e programas da emissora. Lá, criou a música mais conhecida de sua carreira, o tema de abertura de Os Trapalhões. Em 1948, sua composição Comigo É Assim fez sucesso com Os Cariocas, e seria regravada em 1977 por Tom Jobim e Miúcha.

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“Ele viveu o apogeu e o declínio de vários momentos da música brasileira, do rádio, da TV e da indústria do disco, sem nunca desanimar, tinha uma energia, uma vitalidade para tocar impressionantes”, diz o violonista Marcello Gonçalves, que em abril defendeu sua dissertação de mestrado sobre a obra de Menezes para violão solo. “Além das composições, ele tinha uma assinatura muito própria em todos os instrumentos de cordas”, completa.

Além dos discos próprios e de atuar como arranjador e de compor para diversas formações, o multi-instrumentista integrou o sexteto de Radamés Gnattali, tocou em dupla com Garoto na Rádio Nacional, com o tecladista Djalma Ferreira, no conjunto Milionários do Ritmo, e gravou 13 discos com o bem-humorado grupo Velhinhos Transviados.

Versátil e extremamente requisitado para gravações de estúdio, Menezes gravou com nomes como Chico Buarque, Edu Lobo, Elizeth Cardoso, Paulo Moura, Raphael Rabello, Canhoto, Monarco, Cartola, Beth Carvalho, Fundo de Quintal, Dino Sete Cordas, Paulinho da Viola, Zeca Pagodinho e Roberto Carlos. Seu último disco foi lançado em 2010, dentro do projeto Zé Menezes – Autoral.

“É um dos últimos da linhagem do Garoto. De alguma maneira, morrem uma época, uma escola, uma polivalência que só ele e o Garoto tinham em vários instrumentos. Deixa a saudade, mas também muito orgulho pelo caminho bonito e digno que ele criou”, comenta o violonista e compositor Yamandu Costa. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.