Zaytoun: destaque na 6.ª Mostra Audiovisual Israelense

No início de Zaytoun, filme de Eran Riklis que integra a programação da 6.ª Mostra Audiovisual Israelense, que começa nesta segunda-feira (3), no Centro da Cultura Judaica, um garoto com a camisa da Seleção Brasileira de futebol vende cigarros em uma cidade quase em ruínas. É Beirute, no começo dos anos 80, logo após a guerra contra Israel, tentando se reerguer em meio a conflitos entre árabes e judeus. Quando uma agente da ONU compra um dos maços, pergunta seu nome. “Zico”, responde ele e sai batendo bola pelas vielas até o campo de refugiados onde mora.

Durante toda a aventura que Zico (na verdade, Fahed) vive em Zaytoun, que passa sábado, às 20h30, a paixão pelo futebol vai ora servir de metáfora para rivalidades que, em vez do campo de batalha, poderiam estar em um gramado, ora quebrar a dureza da vida deste menino que, após perder o pai em um ataque aéreo israelense, acaba ajudando um piloto (e prisioneiro) judeu a fugir para Israel. Na jornada, além de poucos pertences, carrega uma bola e um pequeno pé de azeitona (zaytoun, em árabe). Fahed quer levar a árvore, que seu pai morreu sem conseguir plantar, para o quintal da casa na vila (atual território israelense) que sua família abandonou quando teve de ir para o campo de refugiados. Yoni, o piloto, promete levar o garoto até sua terra natal se ele o ajudar a chegar à fronteira. Pelo caminho, enfrentam os mais variados perigos, mas encontram tempo para jogar bola.

O futebol seria mero recurso narrativo não tivesse Riklis vivido dos 13 aos 16 anos, no Rio, na década de 70. “Meu pai era conselheiro científico da Embaixada de Israel no Rio. Adorava viver em uma cidade tão linda e plural”, disse o diretor à reportagem, por telefone, de Tel-Aviv.

Essa vivência contribuiu para que Riklis, assim como Fahed, virasse um apaixonado por futebol. “Vivi no Brasil na era de ouro da Seleção. Senti na pele o impacto que o futebol tinha na vida das crianças. Quis trazer isso para o meu filme.”

Trouxe também o olhar carinhoso sobre dois personagens que, apesar de inimigos, têm muito em comum. “Viver no Brasil foi decisivo para que eu olhasse de modo diferente a questão no Oriente Médio”, disse o diretor. “Entendo e mostro como ambos sofrem com a guerra. Não há ninguém certo ou errado nesta história. Todos perdem”, acrescenta Riklis, que teve “a cabeça definitivamente aberta para o mundo” por uma professora de literatura inglesa na Escola Americana do Rio. “Quando me mudei para o Brasil, em 68, a Guerra dos Seis Dias tinha acabado há um ano. E Israel se sentia como o Império Romano. Tínhamos vencido a guerra, éramos um grande país. Mas com mentalidade provinciana. E foi a senhorita Walter quem me mostrou, em plena ditadura militar brasileira, que o mundo era mais amplo. Em vez dos clássicos, nos deu Um Estranho no Ninho para ler.”

“Aos 21 anos, percebi que queria fazer filmes. Não políticos, mas que contariam histórias das pessoas comuns. Tento entender a condição humana. No meu caso, se passam no Oriente Médio, mas neles há questões que são universais”, acrescenta.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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