Antes de o que se chama de ‘Baixo Augusta’ virar modismo, a rua mais simbólica da moderna noite paulistana já tinha sua banda residente: Zabomba. Assídua frequentadora da casa noturna Sarajevo, a banda muda de palco hoje e toca pela primeira vez no Studio SP, com participação de Ney Matogrosso, para lançar o terceiro CD, “Vivendo de Truque” (Label A.).
Além de boas canções, Rapha Z (vocal), Paulo Passos (guitarra), Beto Böing (baixo) e Marcelo Bonin (bateria) conseguiram a façanha de juntar no mesmo disco os dois nomes mais fortes dos Secos & Molhados – Ney Matogrosso (na faixa “Mente”) e João Ricardo (na composição dele “Teatro?”) – que não se falam desde o rompimento do grupo em 1974. O americano Antony Widoff, coprodutor do CD, também toca no show.
Como os S&M, que era um quarteto no início, os quatro Zabombas aparecem na capa do CD com maquiagem nos olhos, em clara referência ao visual do grupo de Ney e João. Rapha diz que nada disso foi proposital. “Nunca tivemos a intenção de juntar o João e o Ney no mesmo disco. Isso foi a própria dança da vida. A gente já tocava umas músicas do João, que participou de um show nosso no Auditório Ibirapuera. Paulo Passos já trabalhou com ele. A gente já ia gravar a canção Teatro? dele”, conta o vocalista.
Quanto a Ney, eles têm amigos em comum na banda do cantor. Felipe Roseno, percussionista da banda de Ney, levou o segundo CD (“O Que Não Se Explica”, que teve boa repercussão na Itália) para ele. “Ney gostou muito do disco, mais especificamente da faixa Pronome e quis nos conhecer.” Alguns contatos depois e eles fizeram a proposta para Ney participar do CD. No show de amanhã, vai cantar com a banda “Mente, Pronome, Tanto Amar” (Chico Buarque) e “Poema” (Cazuza/Frejat).
Quando virou mania nacional em 1973, os Secos & Molhados trouxeram para a frente de batalha a ousadia do sex-appeal andrógino aliada a canções de cunho político, com poemas contundentes musicados por João Ricardo, peitando a ditadura militar como nenhum outro artista da música. Mais: criou o rock adulto com sotaque brasileiro.
“A gente valoriza Secos & Molhados, Mutantes, Titãs, Barão Vermelho, Jorge Ben, Tim Maia, Roberto e Erasmo Carlos, Marina, Tom Zé, Tom Jobim. Isso tudo mais Tom Waits, Police, Thelonious Monk e outros vêm embutido no nosso som. Costumamos dizer que somos uma banda de rock tropical cinzento, porque tocamos rock, vivemos nos trópicos e somos de São Paulo.”
Evoluindo a cada trabalho – e vivendo só de música -, o Zabomba toca em questões de ordem existencial em “Vivendo de Truque”, muito em razão do natural amadurecimento, mas também em consequência da troca de baterista. É apenas rock’n’roll, mas com parafuso na cabeça. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Zabomba e Ney Matogrosso – Studio SP (Rua Augusta, 591, Consolação). Telefone (011) 3129-7040. Hoje, às 23 h. R$ 35.
