A saga da produção do filme “Tainá 3 – A Origem” para encontrar a nova atriz que daria vida à indiazinha defensora da natureza no novo filme da série é tão peculiar que acaba soando como clichê de filmes de aventura. Depois de passar quase dois anos realizando testes em vários Estados do Brasil para encontrar a menina que substituiria Eunice Baia, a ‘primeira Tainá’, que hoje tem 20 anos, o produtor Claudio Barros e seu assistente Milton Boulhosa descobriram a pequena Wiranu Tembé durante os Jogos Indígenas 2009.
Realizados em outubro na cidade paraense de Paragominas, a cerca de 300 quilômetros da capital, Belém, os jogos reuniram tribos de todo o Brasil em competições de pesca, danças e outros rituais indígenas. “Já havíamos testado de atrizes mirins a meninas que nunca tinham visto TV. E nada. Até que um dia fomos aos Jogos e, durante o evento, avistamos uma menininha, agarrada à saia da mãe, quase sendo arrastada de tão pequena. Ela parecia muito menor que a Tainá do roteiro, que tinha 8 anos. Mas a figura da Wiranu nos chamou tanto a atenção que resolvemos pedir autorização à Funai (Fundação Nacional do Índio) para falar com sua família”, contou Claudio Barros após uma jornada de filmagens de “Tainá 3” em Alter do Chão, onde há três semanas cerca de 100 pessoas trabalham nas filmagens do longa.
Barros teve de pedir autorização à Funai porque, durante o evento, cada tribo tem seu espaço e, em geral, o acesso é controlado. “Tínhamos só a foto dela. E precisávamos saber mais. Conseguimos autorização, falamos com o pai dela e o convencemos a autorizar que ela fizesse um teste. Ela foi tão bem que se tornou uma das 12 finalistas do processo de seleção”, relembra.
Wiranu era perfeita para o papel. Corajosa e esperta como Tainá, tinha tudo para ser a nova estrela mirim. Único detalhe: ela não falava português. Mas Claudio tinha certeza que ela poderia dar conta do recado. E deu. Apesar do ‘detalhe’ e de ser menor que a heroína do roteiro, Wiranu foi tão bem nos testes que, após um mês de exercícios de atuação, não deixou dúvidas: “Tanto eu quanto a Rosana (Svartman, diretora do filme) sabíamos que ela era a nova Tainá.”
Nome aprovado, produtores convencidos, era a hora de adaptar a história para uma garotinha menor. Enquanto a roteirista Cláudia Levay trabalhava, Wiranu continuava sua rotina na aldeia Tekohaw, a 12 horas de barco de Paragominas. Meses depois do treinamento, Barros foi visitar a menina. No reencontro, perguntou: “Você estava com saudade?”. A menina, com 5 anos recém completados e um português incipiente, respondeu: “Não.” Claudio estranhou a resposta, mas aceitou a sinceridade infantil. Passado algum tempo, Wiranu disse a Claudio: “Tio, pensei muito em você e no tio Milton.” Foi então que o produtor entendeu. Wiranu tinha saudade. “Ela só não sabia dar nome ao sentimento em português.”