São fotografias impressionantes, um pouco pelas dimensões. Foram ampliadas e transformadas em quadros imensos – 2 mx5 m (ou 6 m), 3 mx3 m -, tão pesados que os funcionários do Masp têm dificuldade para prendê-los às paredes. Wim Wenders está montando sua exposição de fotos. Ela será inaugurada hoje à noite, para convidados, antecipando a abertura da 34.ª Mostra de Cinema, amanhã, da qual o autor alemão é um dos homenageados. Mas o que impressiona de verdade são as imagens, elas mesmas, de lugares solitários – estranhos e quietos. Quiet and Strange Places. Exatamente o título da exposição.

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Quando o repórter chega, Wenders está sentado, na posição clássica do pensador (de Auguste Rodin). Mas logo ele começa a se movimentar e a conversar sobre suas fotos e filmes, como “Até o Fim do Mundo”, cuja versão integral, com 280 minutos, vem exibir, depois que a reduziu, com exatamente 140 minutos, foi demolida pelos críticos, há 20 anos. Wenders banca o cicerone do repórter. Leva-o para diante das fotos já montadas.

Uma das obras lembra um quadro de Edward Hopper – uma árida paisagem urbana de uma pequena cidade norte-americana, mostrando, numa esquina, uma lanchonete. “Parece retirada de A Estrela Solitária”, seu filme com Sam Shepard e Jessica Lange, observa o repórter. “Não é do filme, mas é de Montana, onde filmei.” Outra foto mostra uma roda-gigante no meio de uma paisagem desolada, com o que parecem os restos de uma cidade ao fundo. “Essa foto deve agradar particularmente a Leon (Cakoff, o organizador da Mostra, de ascendência armênia). Foi tirada na Armênia. Aquele é o outro ângulo” – e ele aponta outra foto, enorme, que apresenta a mesma roda-gigante, mas agora com outro fundo. As duas parecem rebatimentos. Formam uma espécie de campo e contracampo.

Como no cinema. Wenders considera-se fotógrafo ou cineasta? As fotos são ferramentas para a preparação dos filmes? “Comecei a fotografar bem antes de me tornar diretor. Nunca viajo sem minhas câmeras. E são esses lugares que me atraem”, ele observa. Uma cadeia circular de pequenos montes na Austrália, sem uma casa próxima – há um observatório, mas ele foi banido da imagem, tomada do alto, de um pequeno avião. Um cinema ao ar livre. Um banco que dá para uma velha embarcação num estaleiro. A maioria dessas fotos é inédita, mas, sim, algumas já integraram exposições que ele fez ao redor do mundo.

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Wenders está contente de voltar ao País. Já veio algumas vezes – a primeira foi para visitar um amigo na Bahia, não tinha nada a ver com cinema. Aponta uma foto no alto de um prédio em São Paulo, outra que tirou na Alemanha, sem saber que a obra que estava retratando era de Osgemeos, os grafiteiros Otávio e Gustavo Pandolfo, que assinaram o cartaz da Mostra no ano passado. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.