Virou lenda a história segundo a qual Alain Resnais exortava Marguerite Duras a fazer literatura enquanto escrevia o roteiro de Hiroshima, Meu Amor. A autora exasperava-se, porque seu sonho nada secreto era o cinema e Resnais lhe dizia que dele se ocuparia depois. Uma história parecida é contada por Anne Consigny. Ela faz uma das Eurídices na peça dentro do filme de Vocês ainda não Viram nada. E Anne relatou como Resnais pedia a seus atores que fossem teatrais, como se a vida fosse um palco.
Pegando carona em Vocês ainda não Viram nada e em alguns filmes do Festival Varilux que ainda rodam pela cidade, pode-se falar nas relações entre teatro e cinema, mas não no sentido tradicional. O cinema sempre recorreu à fonte do teatro, muitas vezes sob a forma de adaptações. Mas agora a questão é um pouco mais complexa. Resnais, e também Jean-Pierre Améris, diretor de O Homem Que Ri, e Philippe Le Guay, que assina Pedalando com Molière, querem fazer teatro no cinema, ou pelo menos invadir seus domínios. Inversamente, José Wilker e Monique Gardenberg incorporam técnicas de cinema a peças que dirigem e estão em cartaz. A de Wilker baseia-se num filme de sucesso – Rain Man, de Barry Levinson, que venceu os Oscars de filme, direção e ator (Dustin Hoffman) de 1988.
Na peça que dirigiu anteriormente – Palácio do Fim, de Judith Thompson -, Wilker já usara a iluminação como câmera, estabelecendo cortes, em cena, por meio da luz. Em Rain Man, ele contou ao repórter que se valeu de outro procedimento de cinema e criou travellings com objetos de cena para contar a história de Charlie e seu irmão autista, Raymond, o Rain Man. Monique adapta cinco contos de Haruki Murakami, compondo um espetáculo de teatro com material basicamente literário, do livro O Desaparecimento do Elefante. São histórias triviais de homens e mulheres, mas a trivialidade é subvertida pelo humor – levemente nonsense.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.