Wanda Sá festeja cinco décadas de estrada

A ciranda das reavaliações históricas dá vez a Wanda Sá. Das vozes e atitudes mais fiéis à bossa nova desde 1964, quando lançou Wanda Vagamente, ela completa 50 anos de carreira e 70 de vida com um projeto fino e bem acabado de shows, CD e DVD. Os shows serão realizados nesta quarta-feira, 28, e quinta, 29, no Sesc Vila Mariana, e o que poderia ganhar vida com confetes e memórias traz um conceito sutil. Wanda foi aos lados B da bossa, valorizando canções nem sempre lembradas em datas históricas. Um comportamento que os artistas começam a adotar ao rever aquilo que seus lados A atropelaram. Milton Nascimento fez isso, em parte, em sua recente apresentação no teatro J.Safra, e Erasmo Carlos também o fez, no todo, no show chamado Meus Lados B.

Wanda não bate esse carimbo em seu projeto, mas sua intenção é explícita. Nem tudo é tirado das sombras, como a abertura de Água de Beber (de Tom e Vinicius). A partir da segunda (2), então, ela mesma improvisa um faixa a faixa: Discussão (Jobim e Newton Mendonça): “É uma das pouco tocadas do Tom. Já me perguntaram algumas vezes em meus shows quem seria o compositor”. E Nada Mais (Durval Ferreira e Lula Freire): “O Durval é impressionante, gravou seu primeiro disco aos 70 anos”. Cartão de Visita (Carlos Lyra e Vinicius): “Nunca foi bem explorada, e está no disco Pobre Menina Rica. Vinicius dizia que ela era para explicar o que é ser carioca”. O Que É Amar (Johnny Alf): “O Johnny ainda está tão à frente do nosso tempo…”.

Cinco nomes estão a seu lado em momentos do CD e do DVD. E poderiam ser seis, mas o violonista e produtor Roberto Menescal (“a pessoa mais importante da minha vida”, diz Wanda) estava em Los Angeles, sendo homenageado na entrega do Grammy Latino, na mesma data da gravação do projeto. Os outros não são menores: sua Vagamente é feita com o piano de Marcos Valle, que aparece também em Novo Acorde, parceria de Marcos com Wanda e Paulo Sérgio Valle; Carlos Lyra cedeu e canta com Wanda Ciúme, um de seus lados B; João Donato e de volta Lyra tocam em Pra Sempre; e Donato fica ainda para Minha Saudade ligada a Bim Bom e A Rã (que só aparece no DVD). Os bônus acontecem com a cantora Jane Monheit dividindo vozes com Wanda ao cantar em português Inútil Paisagem, Coração Sem Saída e Caminhos Cruzados (estas com Dori Caymmi). Há no DVD duas músicas de Jorge Ben, com quem Wanda foi para os Estados Unidos pela primeira vez, em 1964: Por Causa de Você, Menina e Chove Chuva.

Wanda percebe que a bossa nova só se tornou algo datado em seu próprio país. Nas apresentações que faz pelos Estados Unidos, Europa e Japão, chega a colocar mais de mil pessoas nos teatros. “Nunca cantamos para mais de mil pessoas no Brasil, nunca”, diz ela. O acento cool de seu canto não é, segundo reflete, sinal de contaminação de Chet Baker ou dos anos em que esteve nos Estados Unidos. “A bossa teve influências do jazz, mas, em um segundo momento, foi o jazz que passou a receber influências da bossa.”

A segunda ida de Wanda aos EUA, em 1969, resultou em uma abnegação. Casada com Edu Lobo, ela deixou a música. E ficaria distante dela até voltar ao País, por volta de 1982. A avaliação que faz agora é da própria vida. “Ser cantora nunca foi um projeto de vida. Eu era uma menina muito despreparada e, quando voltei de lá (pela primeira vez), já não queria mais cantar. Mas pessoas como Vinicius não queriam que eu parasse. Depois que me separei do Edu, fui pegar o fio que havia deixado de minha carreira.” Seu feito foi incrível. Depois de deixar os palcos e os estúdios por mais de 12 anos, Wanda se reergueu. “Voltar pode ser mais difícil do que começar.” Ela tem o que comemorar. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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