Virada Cultural tem um milhão a menos de frequentadores

Os produtores estimavam extraoficialmente menos um milhão de pessoas nas ruas de São Paulo: 3 milhões, ante 4 milhões em 2013. Isso, somado a menos duas horas de duração por conta de uma chuvarada inesperada, mais reforço no policiamento e limpeza, com menos atrações internacionais de peso e mais atrações nacionais de peso, resumiu a equação da Virada Cultural 2014. Consumiu-se também menos bebida alcoólica na rua, havia menos bêbados e garrafas quebradas por todo o lado.

Aos 10 anos de existência, a Virada Cultural continua um Godzilla do entretenimento, mas seu crescimento ensandecido parece ter sido controlado, e ela atinge agora um grau de maturidade interessante. Os arrastões continuam (vândalos quebraram inclusive o transporte em que vinham, como trens da CPTM), e também a violência (houve mais de cem prisões na madrugada). Os alvos eram jaquetas, celulares e tênis. Muitos dos assaltantes vinham de chinelos e meias, para roubarem os tênis e já os calçarem.

E os problemas de som crônicos, além de atrasos sistemáticos. Mas há também iniciativas que se tornaram interessantíssimas – como a Viradinha Cultural, um oásis de lazer para pais e filhos em uma cidade que oferece tão pouco em opções para as idades mais tenras da cidadania. Mesclando atrações mais comerciais com alternativas (o que incluiu música erudita para crianças na Igreja da Consolação), a Viradinha agradou praticamente a todo mundo que passou por lá.

Os cancelamentos dos últimos shows “encurtaram” o megaevento e frustraram muita gente, que após se molhar na chuva inesperada, voltou aos palcos para ver seus ídolos – e não encontrou ninguém, nem informação. Havia confusão inclusive entre os montadores de palco e os artistas, que não sabiam se ficavam ou partiam.

MC Gui, Céu, Martha Reeves – um leque grande de artistas ficou igualmente frustrado, mas as razões eram de segurança – os equipamentos que se molharam davam indicativo de que poderiam dar choques elétricos.

A feira de cerveja artesanal foi outro êxito, com 20 barracas e o tradicional encontro Chefs na Rua. Pessoas se deliciavam com pratos que iam de paella tradicional a ceviche e hambúrgueres. Também são elogiáveis as iniciativas de humanização da relação da cidade com seus problemas, como foi o caso do palco Braços Abertos, instalado para contemplar os usuários de crack que eram, até há pouco tempo, a maior ameaça da cidade.

O Teatro Municipal parece ter encontrado a fórmula ideal: artistas históricos de diversos gêneros (como o protofunk de Fausto Fawcett e a MPB clássica de Ednardo) refizeram discos também históricos no palco, e foi um sucesso.

A Sala São Paulo esteve lotada ontem para o concerto especial da Orquestra Jazz Sinfônica. Este é o primeiro ano em que a Sala abre com programação integrada à Virada. Sob regência do maestro Fábio Prado, os músicos mostraram um repertório popular, como faz desde 1990, quando foi fundada.

Foram comoventes as execuções de temas arranjados pelo maestro Ciro Pereira. Houve uma homenagem ao choro e outra ao baiano Dorival Caymmi, Astor Piazzolla (Years of Solitude) e George Gershwin (Gershwin Suíte) encerraram o concerto à tarde, para o início do show de Luiz Melodia no palco Júlio Prestes.

Para o secretário municipal de Cultura, Juca Ferreira, a Virada Cultural foi mais tranquila que a de 2013. Após o show que relembrou o repertório do disco Hip Hop Cultura de Rua, no Teatro Municipal, ele disse que o policiamento e serviços de iluminação e limpeza funcionaram melhor nesta edição.

Ferreira considerou “pontual” o número de arrastões que aconteceram durante algumas atrações. “Infelizmente, tivemos esses problemas, mas bem menor que no ano passado. Tivemos uma ação muito eficiente da Polícia Militar e da GCM. Houve um certo nível de insegurança na cidade, mas nada que tenha prejudicado.”

Ele também afirmou que os problemas de segurança são “do ano inteiro”, e que a questão é da cidade, não da Virada.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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