“Decifra-me ou te devoro”, dizia o mitológico enigma da esfinge egípcia. A máxima foi levada à risca pelo jovem Marcelo da Rocha. Foi ainda na escola que ele percebeu que levava jeito para trapacear. Era bom de lábia, de raciocínio rápido, insolente, cara-de-pau. Enganou quem apareceu em seu caminho. Com mentiras bem contadas, se fez passar por piloto de avião, comandante do tráfico, presidente de multinacional, líder de facção criminosa. A história de um estelionatário em busca de sua identidade – e que usufrui de muitas outras – foi a inspiração para “Vips”, estrelado por Wagner Moura e com direção de Toniko Melo, que chega à Mostra Internacional de Cinema.
Marcelo sai de casa para perseguir o sonho de ganhar os ares como o pai, piloto de avião. A primeira trapaça o leva a Cuiabá, onde começaria sua carreira de crimes, trabalhando num aeroporto pequeno, que lhe abrigaria até conseguir o brevê de piloto. O telefonema de um dos clientes do patrão, na fronteira com o Paraguai, o leva a uma atitude definitiva em sua trajetória. Um traficante precisa de um avião para desovar cocaína e armas, para fugir de um cerco policial. É a chance de Marcelo mostrar serviço. Com poucas horas de voo como copiloto de pequenas aeronaves, ele se arrisca. Põe o avião no ar, e vai resgatar o traficante. Logo, ele se tornaria piloto oficial de contrabandistas, com polpudo salário em dólar.
A sorte de Marcelo até acaba, mas ele dá a volta por cima. A polícia consegue capturá-lo, mas ele, mentiroso convincente, dá pistas falsas sobre os líderes do tráfico de drogas. Em liberdade, passa a se preparar para um golpe ainda maior. Numa revista de celebridades, vê a imagem de Henrique Constantino, filho do presidente da Gol Linhas Aéreas, e resolve se passar pelo rapaz. Por telefone, arma seguranças, helicóptero, reservas num resort de luxo. O destino é o Recife, onde vai se apresentar como “filho do dono da Gol”, patrocinador de um dos camarotes do Carnaval pernambucano. Começa, então, a parte mais divertida e surreal do filme, já que é toda baseada em fatos reais.
No auge de sua empáfia, o golpista concede uma entrevista ao programa de Amaury Jr, tal qual aconteceu de verdade. Quando o falso Constantino aparece em rede nacional com o apresentador (que foi enganado e aceitou fazer uma participação no filme), a farsa começa, enfim, a ruir. Antes disso, porém, o poder de convencimento de Marcelo leva um ator de TV a lhe emprestar o jatinho, que ele mesmo pilota de volta ao Rio, numa louca tentativa de fuga. A farsa de Marcelo como herdeiro milionário estava desmascarada, mas ele ainda lançaria mão de um último truque. Na cadeia, assume uma última identidade, a de Juliano de Souza, uma das lideranças do grupo criminoso PCC. As informações são do Jornal da Tarde.
Vips. Mostra Internacional de Cinema. Sessão hoje, às 14h. Cine Belas Artes (Rua da Consolação, 2.423). Tel. (011) 3258-4092. Ingr.: R$ 18 e R$ 9 (meia-entrada).