Em 2002, o violinista norte-americano Gil Shaham viu ruir sua carreira ao ser demitido da ilustre gravadora Deutsche Gramophon. Estava com 31 anos. Só se reestruturou em 2004, quando lançou seu próprio selo, o Canary Records. A filosofia é tentar recuperar o investimento em cada gravação e gerar o suficiente para bancar a seguinte. Músico de primeira linha na cena internacional, continuou se apresentando com as mais qualificadas orquestras norte-americanas e europeias. Comprou os masters de suas performances.
E agora parte para seu lance mais ambicioso: lança o primeiro álbum duplo de uma série que intitulou Concertos para Violino dos Anos 1930 (disponível para download por US$ 9,99 em www.classicsonline.com). As performances são dos últimos seis anos. Gil programou a maioria dos concertos dos magníficos anos 30, período privilegiado para o violino.
Este duplo traz cinco reluzentes concertos, de Berg, Barber, Stravinski, Hartmann e Benjamin Britten. Nos três primeiros, a batuta fica com David Robertson. As orquestras são variadas. Em Barber, o registro é de 2010 com a Filarmônica de Nova York; é do mesmo ano a ótima leitura do “concerto para um anjo”, de Alban Berg, em que Shaham e Robertson comandam a Staatskapelle de Dresden; no interessantíssimo concerto de Stravinski, a dupla pilota a Orquestra da BBC, em concerto de 2008. No torturado Concerto Fúnebre do alemão Hartmann, escrito no início da Segunda Guerra, em 1939, Shaham comanda do violino os Sejong Soloists, que apesar do nome são de Nova York. Ao lado de Barber, a performance em Britten é uma das melhores deste buquê de concertos para violino. Aqui Shaham toca sob a batuta de Juanjo Mena à frente da Sinfônica de Boston.
Apenas um concerto, o de Stravinski, está no álbum a partir de uma única captação ao vivo. Não por acaso, é o que mais impacta os ouvidos. Nos demais, o que se ouve é ao vivo, mas cheio de copy-paste a partir de duas ou três noites distintas. Num momento em que a vida musical ao vivo demonstra muito mais força do que as gravações de estúdio, talvez seja melhor pôr no mercado as performances tal como aconteceram na sala de concertos. É mais barato para quem banca; e mais emocionante para quem ouve. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.