Ivan Vilela estará no Teatro |
A viola caipira tem a sua vez nos palcos da 13.ª Oficina de Música Popular Brasileira. Será no show que o violeiro Ivan Vilela apresenta amanhã, às 21h, no Teatro da Reitoria. O espetáculo é um misto de músicas do seu CD Paisagens e composições que integram os dois novos discos a serem lançados ainda este ano.
Ivan Vilela prepara a gravação de um CD com novos arranjos de composições variadas. São versões de músicas de Chico Buarque, Flávio Venturini, Luiz Gonzaga, Beatles, Almir Sater, Pereira da Viola, entre outros. O outro CD, já denominado Dez cordas, é totalmente autoral. Nele, Ivan Vilela apresenta uma nova técnica de tocar viola, que consiste em utilizar as dez cordas separadamente, em vez dos cinco pares, como normalmente acontece. O resultado é uma sonoridade diferente da original, que passa a impressão de estarmos ouvindo o som de duas ou três violas juntas.
Um dos instrumentos mais arraigados da cultura popular, a viola caipira tem espaço cativo nas Oficinas de Música Popular Brasileira de Curitiba, integrando a programação de cursos há vários anos. Agora a sua importância na formação musical também chega aos meios acadêmicos. Este ano tem início na Universidade de São Paulo (USP-Ribeirão Preto) a primeira turma do Curso de Bacharelado em Viola Caipira, do qual Vilela é um dos idealizadores.
História na cultura popular
Um dos maiores especialistas em música de raiz e cultura popular, Ivan Vilela conta que a viola é um dos instrumentos musicais mais antigos do Brasil. Originária da renascença portuguesa e espanhola, ela veio com os primeiros colonizadores, junto com a flauta e a rabeca. No Brasil, ela sempre esteve ligada à música que se faz no campo, embora no período colonial tenha sido adotada pela música erudita brasileira em substituição ao cravo. Depois disso, foi inserida nos festejos do catolicismo popular, experimentando a partir de então um período de plena descoberta.
"Foi nesse meio rural que o instrumento encontrou liberdade para se desenvolver, principalmente no que se refere à questão rítmica", explica Vilela. Em 1929, surgiram as primeiras gravações de música caipira e ela passou a atender a uma outra demanda, não só a dos rituais católicos, mas também de mercado. Desde aquela época até hoje, esse é o gênero que mais vende discos no Brasil.
Vilela ressalta que a história da música sertaneja em nenhum momento passa pelos chamados "sertanejos românticos??, que na verdade só se apropriaram do termo. Por isso, hoje é preferível falar em "música de raiz?? ao se referir à autêntica música caipira que, na contramão da globalização, se fortalece e se revitaliza.
"De fato, a partir dos anos 90s, a viola passou por um forte processo de revitalização, devido a uma série de fatores, entre eles os efeitos colaterais da globalização, que despertou o sentimento pela preservação da identidade cultural??, diz o músico. Segundo Vilela, outro fator que não se pode menosprezar é a presença de Almir Sater nas telenovelas.
Hoje, não só o pessoal do campo, mas músicos de diversos segmentos reconhecem a vitalidade da viola caipira. Na região Sudeste surgem movimentos autênticos, conhecidos por Viola Turbinada ou Caipira Groove, que nada mais são do que bandas de rock que utilizam a viola e outros elementos da música caipira.
Outra tendência tem sido a formação de orquestras de violas com mais de 50 componentes, reunindo músicos de todas as idades, segmentos sociais e níveis de escolaridade. Estima-se que hoje existam pelo menos dezoito só no Estado de São Paulo.
Para Ivan Vilela, a viola é o ícone de um estilo de vida. "Esses movimentos representam a desilusão com a cidade grande e a busca de valores da cultura camponesa, como a solidariedade, a tranqüilidade e a honestidade, enfim, a busca de um ritmo de vida mais lento, ao pé do fogão a lenha??, diz.
O artista
Ivan Vilela recebeu importantes prêmios por suas pesquisas sobre a música de raiz e por sua atuação em discos autorais ou junto a outros grupos. Em 1998, recebeu o Prêmio Sharp de Revelação Instrumental pelo CD solo Paisagem. O disco Espiral do tempo, com o grupo Ânima, ganhou em 1997 o Prêmio Movimento de Música Brasileira como melhor disco instrumental do ano e o prêmio da Associação Paulista dos Críticos de Arte como melhor conjunto de câmara. Trilhas, gravado com o grupo Trem de Corda em 1994, recebeu duas indicações ao Prêmio Sharp.
Ivan Vilela já se apresentou na Espanha, França, Inglaterra, Itália e Portugal. Atualmente é diretor e arranjador da Orquestra Filarmônica de Violas e o fundador da ONG Núcleo da Cultura Caipira. Ivan Vilela compôs a ópera Cheiro de mato e de Chão, a partir do libreto de Jehovah Amaral. Ele é o coordenador do Prêmio Syngenta de Música Instrumental de Viola (2004). Professor da USP, o músico atua como pesquisador há mais de 15 anos, sendo procurado para participar de festivais e seminários em todo o Brasil.
Serviço:
Show de viola caipira com Ivan Vilela. Teatro da Reitoria (Rua: 15 de Novembro, 129). Sexta-feira, 21 de janeiro, às 21h. Ingressos a R$ 5,00.