Floriano Peixoto já tinha um longo currículo nos palcos quando fez sua primeira novela Explode Coração, de 1995, em que fazia o travesti Sarita. Nesses 10 anos, o ator de 46 anos já interpretou diversos outros tipos na tevê, mas todos com uma característica em comum: a densidade. Floriano garante que não é nada intencional, mas não consegue evitar. Resquício, certamente, de seu passado teatral. Ao se deparar com um pequeno conflito, ele se aprofunda instintivamente nos problemas de seu personagem. ?Eu tenho facilidade para ganhar papéis com alma complexa. Às vezes, até me questiono: ?será que sou assim??. Acho, porém, que não encaro a vida com essa densidade toda?, acredita.
Denso, para Floriano, é o atuar na tevê. Embora já tenha experiência, o ator ainda considera difícil o trabalho de estúdio. Vira e mexe, se desliga das câmaras, marcações e microfones. Como um bom ator de teatro, sente falta do tempo dedicado aos ensaios. ?Chegar lá e fazer, para mim, ainda é muito complicado?, admite. Mas há características do trabalho nas novelas de que Floriano gosta. Como descobrir o destino de seu personagem de acordo com o desenrolar da trama, o que significa que seu desempenho ajuda a escrever a história do personagem. Tanto que se surpreendeu quando leu no ?script? de América que o Tony viveria um triângulo amoroso com Haydée e Raíssa, papéis de Christiane Torloni e Mariana Ximenes. Para o ator, foi justamente esse romance com mãe e filha que deu maior destaque ao seu papel. Até ali, Tony tinha uma presença discreta no núcleo de Miami. ?No começo, o Tony era misterioso até para mim. Mas achei fascinante essa história que a Glória criou?, derrama-se.
Foi também Glória Perez a criadora de seu personagem preferido na tevê: Sarita de Explode Coração de 1995. Floriano considera que o papel quebrou todos seus paradigmas profissionais. Pelo tom de voz grave e pelo tipo físico graúdo, o ator jamais imaginou que seria chamado mesmo no teatro para viver um homossexual. Na época, ficou tão intrigado com a proposta que nem cogitou rejeitar o papel. E assim que recebeu a sinopse, caprichou na mudança de visual: depilou o corpo inteiro, cortou a sobrancelha, colocou aplique no cabelo e fez a unha. ?Isso me deu trabalho, prazer, dor, cansaço… Enfim, foi o papel que mais mexeu comigo emocionalmente?, recorda.
Sem sossego
Desde que interpretou Sarita, Floriano não tem mais sossego nas ruas. Basta sair de casa para alguém o parar e fazer um comentário sobre o trabalho. Tímido, Floriano confessa ainda não ter muito jogo de cintura para lidar com o assédio do público. Ao mesmo tempo em que se sente deslocado, no entanto, ele procura dar atenção aos fãs. ?De uma certa maneira, essa profissão me ajuda na hora de me relacionar com as pessoas?, vibra. E pensar que foi por pouco que Floriano não desistiu da carreira. Aos 27 anos, formado em Jornalismo, o ator teve dificuldade em largar a redação do Jornal do Brasil e investir no teatro, mesmo acompanhado pelo desemprego, no que contou com o apoio dos pais. ?Não levo jeito para o jornalismo porque seria capaz de mentir muito. Gosto de fantasiar as coisas. Já, no teatro, posso usar toda minha criatividade?, explica.
Vivendo dias de presidiário
Desde criança, Floriano Peixoto se interessa por histórias de presidiários. Sempre que lia livros ou assistia a filmes relacionados ao tema, se imaginava na situação. Por isso, aceitou protagonizar o episódio Gênio do Crime, do seriado Carandiru – Outras Histórias, que vai ao ar no próximo dia 29. Embora tenha participado do longa-metragem Carandiru, em 2003, o ator acredita que só na série pôde explorar bem as nuances de seu personagem, o Antônio Carlos. ?Sempre tive fascinação por presídio. Tinha vontade de saber como eu viveria, me sentiria ali dentro. Mas, claro, só na ficção?, pondera.
Outro motivo de empolgação, para o ator, foi a oportunidade de gravar num prédio que restou do próprio Carandiru. Só de visitar as verdadeiras celas, Floriano já entrava no clima da história. Em certos momentos, parava para imaginar como sobreviviam os antigos detentos. ?Não dá para descrever o sentimento. Só de passar lá, você já sente arrepios nas costas?, afirma.
Mas não foi só nas gravações do seriado que Floriano sentiu ?arrepios?. Embora maior parte da filmagem de Carandiru tenha sido feita em estúdio, as cenas em que os presidiários ficavam no pátio foram gravadas na penitenciária mesmo. A diferença é que nas filmagens ainda havia um pavilhão cheio de detentos. Entre uma cena e outra, a direção tinha de dar grandes intervalos por conta da gritaria dos presos. ?Essa proximidade me deu medo. Não por preconceito, mas eu não sabia como eles estavam encarando aquilo?, justifica.
Na infância, um solitário
Floriano é casado com a atriz Christine Fernandes, a Aurélia de Essas Mulheres, da Record, com quem tem o filho Pedro, de dois anos.
– Depois de viver Sarita de Explode Coração, Floriano foi chamado para interpretar outros homossexuais no teatro e na tevê. ?Não quis porque já tinha gastado todo meu repertório?, explica.
– O primeiro papel de Floriano Peixoto na tevê foi em 1993, na minissérie Agosto. Ele fazia um capitão da polícia.
– Aos 18 anos, Floriano vivia trancado no quarto, lia muito e ia a poucas festas com os amigos. ?Gostava da solidão. Não era uma coisa triste. Só curtia a minha própria companhia?, justifica.
– Sua estréia no cinema foi em 1994 no filme Veja esta canção, de Cacá Diegues.
– Por ser ator, Floriano sente uma certa pressão para ser mais vaidoso. ?Nunca fui ligado à beleza e nem me considero um cara bonito. Não precisei disso para trabalhar?, afirma.