Até bem pouco tempo, Viétia Rocha acreditava que tinha um “rostinho de anjo”. A impressão se desfez com o convite para viver a segunda vilã na tevê, em sua segunda novela. A intérprete da mau-caráter Celine, de “Pequena Travessa”, estreou como a invejosa Laura, de “Amor e Ódio”, em 2001, no mesmo SBT. A personagem, que chegou a matar e acabou louca, foi um começo marcante. Tanto que Fernando Rancoletta, produtor de elenco da emissora, não conseguiu pensar em outra pessoa ao se deparar com as vilanias de Celine. Apesar de ter gostado da experiência, Viétia espera poder interpretar outros tipos de papéis na telinha. “Daqui a pouco, até eu vou acreditar que sou má”, brinca, às gargalhadas.
Para compor Celine, uma das maiores preocupações de Viétia foi “exorcizar” o fantasma de Laura. Depois de “dar tudo” à primeira personagem na tevê, a atriz achava difícil encarar uma nova vilã sem se repetir. “Joguei todas as fichas, tentei explorar todas as possibilidades da vilania”, justifica. O caminho encontrado foi dar motivações a Celine. Para Viétia, ela é uma mulher mais madura, que faz o que faz por amor. “Um amor obsessivo, mas amor”, ressalva. Se ela entende os motivos de Celine, com Laura não foi tão fácil assim. A atriz teve tanta dificuldade em aceitar a inveja da personagem que passou um bom tempo sem conseguir assumi-la. “Isso é tudo o que a gente não quer na vida. Levei um tempo para perceber que tinha de trabalhar esta inveja ou a personagem não daria certo”, lembra.
Esperando mais
Viétia se diz feliz com o resultado do trabalho que vem fazendo no SBT. Apesar do cansaço, pelo ritmo intenso das gravações, a atriz torce para que a emissora consiga implantar um segundo horário de novelas produzidas no Brasil. Isso porque enxerga um grande crescimento de qualidade entre “Amor e Ódio” e “Pequena Travessa”. “As novelas estão começando a alcançar mais ibope, a mídia está aumentando, os atores estão mais qualificados, as adaptações estão mais ousadas”, elogia. A satisfação com a qualidade das adaptações, aliás, faz com que a atriz não tenha restrições, nem mesmo à continuada produção de tramas mexicanas, resultado do contrato da emissora com a Televisa. “Eles têm interesse em trazer as histórias para nossa realidade, e isso vem melhorando. Tanto que ?Pequena Travessa? é, das quatro novelas, a que mais se aproxima do universo brasileiro”, opina, lembrando as demais tramas produzidas em parceria com a rede mexicana – “Pícara Sonhadora”, “Amor e Ódio” e “Marisol”.
Assim que terminou as gravações de “Pequena Travessa”, em dezembro, Viétia já começou a pensar nos próximos trabalhos. A primeira providência foi mudar-se para o Rio de Janeiro, onde ela espera entrar em contato com outros profissionais, fazer teatro, cinema e tevê. Sem ansiedade, ela conta que já fez alguns testes na Globo, mas “nunca aconteceu”. O primeiro foi em 1994, quando ela acabava de cursar a Faculdade de Artes Cênicas da Universidade de Campinas. Em turnê com o espetáculo “Calígula”, em que contracenava com Edson Celulari, Viétia foi sondada por algumas produções, mas preferiu seguir a temporada da peça. Este ano, fez um novo teste, para a novela “Sabor da Paixão”, mas não foi selecionada. “Mais cedo ou mais tarde, as coisas acontecem. Eu sou atriz, tenho de ir fazendo o meu trabalho”, avalia, consciente.
Ex-ginasta
A tranqüilidade é fruto de uma sólida carreira teatral. Sergipana, Viétia começou nos palcos aos 14 anos, depois de abandonar um posto na Seleção Brasileira de Ginástica Rítmica. Ao sair da faculdade, trabalhou com diretores que admirava, como Antunes Filho, José Celso Martinez Corrêa e Moacyr Góes, e estreou no cinema, onde já fez “Bocage, O Triunfo do Amor”, de Djalma Limongi Batista, “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, de André Klotzel, e “O Invasor”, de Beto Brant. Só depois procurou investir na tevê. “É muito confortável trabalhar na televisão, porque dá projeção e estabilidade. Mas é no teatro que você consegue exercer o lado criador”, compara a atriz, que está trabalhando no texto de seu próximo espetáculo teatral.