“Eu trabalhava na rádio Tupi, em São Paulo, como operador de som e num belo dia o Walter Foster, que era diretor de rádio-ator, me chamou para ligar o microfone porque ia fazer um teste com uma jovem candidata a atriz. Quando cheguei no estúdio estava a Vida Alves, linda e visivelmente nervosa com o teste que iria fazer. Ela leu um texto que o Walter Foster deu e quando acabou ele chegou para mim e perguntou: ‘O que você achou?’. Eu disse: ‘Achei ela linda’. Ele olhou para mim com cara de bravo e disse: ‘Não foi isso que perguntei, estou querendo saber o que você achou do teste dela’. Eu respondi: ‘Continuo achando ela linda’ (risos). Mas o importante foi que ela passou no teste e logo começou a trabalhar no rádio-teatro da Tupi.
Ficamos amigos, até porque ela era mineira como eu, de Itanhandu. O pai dela que deveria ser um parnasiano nato, colocou o nome dela de Vida e da sua irmã de Poema, olha que lindo (risos). Quando Oduvaldo Viana dirigiu Quase no Céu, em 1949, eu trabalhei no filme junto com a Vida Alves que era estrela do elenco que vinha todos da rádio Tupi. E quando foi fundada a televisão brasileira em 1950, eu novamente trabalhei com Vida na primeira novela Sua Vida Me Pertence, em 1951, naquele veículo que enfeitiçaria a todos, a televisão. Foi lá que aconteceu o tão conhecido primeiro beijo. Isso foi no último capítulo da novela. Todos os que trabalharam na novela queriam aquele beijo, principalmente os atores principais, Vida Alves e Walter Foster que fazia o par romântico. Mas um juiz de São Paulo não queria permitir. O argumento dele era que isso era pernicioso: ‘Imagina dois lábios se entrelaçando de forma lasciva e entrando nos lares das pessoas’, disse ele no seu parecer para impedir o tão aguardado beijo. Mas por volta das 18h saiu o veredicto do juiz, iria ter o beijo só que de boca bem fechada. E assim aconteceu às 19h quando a novela foi ao ar. Engraçado é que só se permitia beijos em bocas americanas, bocas brasileiras era lascivo, que tempos tão lindos e tão ingênuos (risos).
O que gostaria de falar sobre a Vida Alves, não foi a lembrança do primeiro teste e nem do primeiro beijo e sim da sua luta incansável pela construção do Museu da Televisão Brasileira. Ela tem que ser lembrada por isso. A luta de toda sua vida, desculpe o trocadilho com seu lindo nome, foi para que a memória dos que fizeram a televisão se perpetuasse. Pessoas como agora ela própria, Oduvaldo Viana, Túlio de Lemos, Roberto Marinho, Walter Foster, Dionisio Azevedo, eu daqui a pouco e tantos outros. Ela fundou a Pró-TV na própria casa dela, que era em Sumaré, mas o museu ela não conseguiu ver realizado e gostaria de deixar registrado que muitos governos e empresários prometeram a ela a construção desse museu e nunca ninguém de fato levou adiante, o que a deixou bastante triste, mas ela permaneceu firme nessa luta. Talvez com a sua morte, infelizmente, algum governo venha a realizar o grande sonho de toda sua vida, o museu da televisão brasileira”.