Victor Fasano, um modelo de persistência

tv41.jpgAinda hoje, há exatos 15 anos de sua estréia na tevê, Victor Fasano não sabe o que a autora Glória Perez e o diretor Wolf Maya viram nele a ponto de escalá-lo como protagonista de Barriga de Aluguel. Mesmo na dúvida, ele resolveu aceitar o convite e trocar as passarelas de moda pelos estúdios de tevê. Apesar das muitas críticas que recebeu, conseguiu se firmar na nova profissão. E, pela quarta vez, volta a atuar numa trama de Glória Perez. Em América, Victor interpreta James Perkins, o advogado das causas impossíveis do núcleo ianque da novela das oito. ?A Glória Perez é a autora mais vanguardista que conheço. Muito antes de a gente tomar conhecimento do Katrina, ela já havia colocado um furacão para assolar Miami na novela…?, brinca.

Mas nem só de novelas de Glória Perez é feito o currículo de Victor Fasano. Dois de seus trabalhos favoritos, aliás, são de outros autores. Um é o inescrupuloso Heitor, de Salsa & Merengue, escrita por Miguel Falabella e Maria Carmem Barbosa. O outro é o divertido Edmundo Falcão, de Torre de Babel, assinada por Sílvio de Abreu. A parceria com Cláudia Jimenez deu tão certo que, um ano depois, eles voltaram a contracenar em Zorra Total. ?O melhor de tudo é que pude fazer personagens diferentes entre si. Canso de ver atores que só interpretam um único tipo…?, observa.

Em seu último trabalho na tevê, Victor interpretou um tipo que não aprecia muito: o galã. De fato, em O Clone, o ator fez o mulherio suspirar com o Tavinho, um quarentão narcisista que enfrentava a crise da meia-idade colecionando flertes amorosos. De lá para cá, o ator limitou-se a fazer uma discreta participação em Canavial das Paixões, do SBT, assumir um cargo público na Prefeitura do Rio e se envolver em confusão com o Repórter Vesgo, do programa Pânico na TV. Abordado com o trocadilho ?Victor, faz anos que não te vejo!?, o ator respondeu à brincadeira com um safanão. ?Não me arrependo do que fiz. Mesmo porque não fiz para machucar. Foi só um alerta. O rapaz ficou apenas um pouco ruborizado…?, desconversa.

P – Durante anos, você trabalhou como modelo nos Estados Unidos. Essa experiência ajudou na composição do James Perkins?

R – Ajudou sim, e muito. As pessoas costumam dizer que o povo americano é frio. Isso não é verdade. Os americanos têm apenas um outro jeito de ser quente. Com eles, não tem muito essa coisa de tocar, por exemplo, mas isso também não quer dizer que eles sejam antipáticos. Eles são apenas diferentes. Como os australianos e os ingleses, por exemplo. Cada um à sua maneira. No caso do Perkins, mais do que a frieza, eu quis ressaltar um certo cinismo. Por vezes, o cinismo do Perkins pode ser interpretado como dubiedade. Afinal, em novela, você nunca sabe mesmo o que está por vir…

P – América é a quarta novela da Glória Perez de que você participa. O que mais chama a sua atenção no trabalho dela?

R – A Glória Perez não é do tipo de autora que está antenada ao que está acontecendo. Pelo contrário. Ela está sempre um passo à frente do que está acontecendo. Lembro que, na época de Barriga de Aluguel, ninguém ainda falava de inseminação artificial. Foi muito vanguardista da parte dela. O mesmo aconteceu com transplante de órgãos na época de De Corpo e Alma e com clonagem humana por ocasião de O Clone. É impressionante…

P – Barriga de Aluguel, inclusive, foi sua primeira novela. Passados 15 anos, como você avalia sua estréia na tevê?

R – Foi um batismo de fogo! Lembro que a Glória Perez escrevia textos muitos maiores antigamente. Nos dias de hoje, você não vê textos de sete, oito páginas. No meu tempo, todas as cenas tinham, no mínimo, sete, oito páginas. Para mim, que era um novato, decorar aquele monte de cena era complicado. Teve de ser na porrada mesmo. Ou vai ou racha. Para piorar a situação, a gente estava terminando de gravar o capítulo 190 quando, cinco dias depois, a novela foi prorrogada em mais 60. O elenco quase morreu! Pessoalmente, emagreci uns dez quilos…

P – O que você pensa da interminável polêmica sobre modelos que, um belo dia, resolvem seguir a carreira artística?

R – Acho um decurso natural da profissão. Nos Estados Unidos, atrizes como Sharon Stone, Julia Roberts e Kim Basinger começaram como modelos. Além disso, o mercado se encarrega de dar a sua ?peneirada?. Aí, fica o que tem de ficar e sai o que tem de sair…

P – Recentemente, você agrediu o Repórter Vesgo durante uma reportagem do Pânico na TV. Se arrepende do que fez?

R – Honestamente, não. Quando alguém quer agendar uma entrevista comigo, basta telefonar que eu marco. Não é o que fizemos? Não estamos aqui conversando educadamente? Pois é. Agora, se alguém se acha no direito de enfiar um microfone na minha boca, eu não posso aceitar. Não acho isso engraçado. Tem gente que acha, eu não! Além disso, não dei para machucar. Quis apenas alertá-lo: ?Olha, rapaz, segura a tua onda!?. Ele, inclusive, nem saiu machucado. Só ruborizado…

Nas passarelas da vida

Muito antes de pensar em ser ator, Victor Fasano já ganhava a vida como jogador de pólo aquático e guia turístico. Na hora de prestar vestibular, no entanto, optou por Administração de Empresas. Nessa época, começaram a surgir os primeiros convites para fazer anúncios e gravar comerciais. Quando constatou que ganhava mais tirando fotos do que trabalhando oito horas por dia, seis dias por semana, viu que algo estava errado. E resolveu ingressar na carreira de modelo. Dois anos depois, embarcava para a Europa, onde ficou por quase sete anos. ?Viajei a Europa inteirinha de mochila nas costas. Até que, um dia, o dinheiro acabou e resolvi voltar?, lembra.

No meio do caminho, Victor Fasano mudou de idéia e se mandou para os Estados Unidos. Na terra do Tio Sam, procurou trabalho na agência de turismo de um amigo de seu pai. ?Como falava várias línguas, ele me empregou como guia turístico?, orgulha-se. Dois anos depois, já de volta ao Brasil, voltou a exercer a profissão de modelo. Paralelamente à carreira de ator em Barriga de Aluguel, tornou-se o primeiro apresentador do Globo Ecologia. Mas logo pediu para sair por discordar da linha editorial do programa. ?O programa não era indicado ao grande público. A população não sabe, por exemplo, o que é desenvolvimento sustentável. Os temas eram elitizados?, critica.

Galã ecológico

Nas horas de folga, quando não está despachando na prefeitura carioca, onde ocupa o cargo de secretário de Promoção e Defesa dos Animais, ou gravando no Projac, Victor Fasano gosta de se refugiar em seu sítio na Ilha de Guaratiba, na zona oeste do Rio. Lá, construiu uma espécie de ?paraíso ecológico particular?. Com autorização do Ibama, cria, numa área de 1.000 m2, 60 espécies ameaçadas de extinção, como o mico-leão-dourado, a arara-azul e a harpia. ?Outro dia, dei de cara com uma araponga. Há anos não via uma dessas por lá?, gaba-se. Para a bicharada não estranhar o lugar, Victor plantou frutas típicas de diversas regiões do País. ?Os alimentos que elas comem são os mesmos que comeriam no seu habitat natural?, garante.

Mas a consciência ecológica do ator não se limita à fauna brasileira. Por vezes, viajou aos mais remotos lugares do planeta só para se engajar na preservação de espécies raras, como as zebras do Quênia e os antílopes negros da Angola. Na ocasião, porém, representantes do governo angolano não viram com bons olhos a iniciativa do ator brasileiro. Conclusão: as últimas fotos da espécie datam do início dos anos 80. ?É uma pena, porque o antílope negro é justamente o símbolo do país?, lamenta. Mesmo assim, ele não desiste. Em 2001, por exemplo, aceitou participar da campanha ?Adote um Animal?, promovida pelo canal Animal Planet e transmitida para 150 países.

Incansável, Victor Fasano não desiste também da idéia de, um dia, voltar a apresentar um programa ecológico na tevê. ?Já apresentei uns dois ou três projetos à Globo, mas sempre esbarro na falta de verba?, lamenta. Enquanto não realiza seu sonho de falar de ecologia na televisão, o ator procura extravasar seu amor pelo meio ambiente de outras formas. Uma delas foi aceitar o convite do prefeito César Maia para assumir a Secretaria de Promoção e Defesa dos Animais. ?Na prefeitura, fico pilhado porque as coisas nunca andam. Na Globo, fico tenso porque elas andam rápido demais?, compara.

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