Thomas Pynchon mudou e continua o mesmo em Vício Inerente, volumoso painel (464 páginas) do que foram os anos 1970 com seus hippies e a “sociedade alternativa”, vinda da década anterior. Pynchon mudou porque se exibe mais como malabarista verbal em Vício Inerente, superando a retórica enlouquecida de seus livros mais antigos, entre eles O Arco-Íris da Gravidade que, desde seu lançamento, em 1973, continua a Bíblia da contracultura. Pynchon permanece o mesmo porque Vício Inerente lida basicamente com a linguagem inspirada em veículos de comunicação de massa – quadrinhos, pulp fiction – sem abdicar das referências literárias da alta cultura.
O que diferencia Vício Inerente dos outros livros de Pynchon – Contra o Dia, Mason e Dixon, Vineland, todos publicados no Brasil pela Companhia das Letras – é uma dose a mais de anarquia. Primeiro, Vício Inerente já começa como um pastiche de um gênero gasto, a novela noir em que um detetive se envolve com gente da pior espécie e, obviamente, acaba metido em confusão – o que é de se esperar de um freak tão sem noção que batiza sua firma de LSD (Location, Surveillence and Detection). Finalmente, Pynchon não tem o mínimo pudor em reciclar personagens (Vineland, em especial), embora para compor sua epopeia mais lisérgica. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.