O Brasil foi o único país da América Latina a enviar tropas à Europa durante a 2.ª Guerra Mundial. Cerca de 25.324 soldados de várias regiões brasileiras combateram na Itália. Destes, 2.762 foram feridos e 465, mortos no conflito que mudou os rumos da História. Há pouco mais de uma semana, cerca de 20 homens de uniforme reproduziam em uma fazenda de Pindamonhangaba cenas que fizeram parte do dia a dia desses soldados, como sobreviver em condições precárias, resistir à fadiga e à fome, caminhar em um campo minado.
Entre os 20 oficiais, cinco eram atores. A tarefa de Daniel de Oliveira, Júlio Andrade, Togun, Francisco Gaspar e Ivo Canelas não era se preparar para desarmar campos minados, mas sim viver na pele o que os oficiais da lendária FEB (Força Expedicionária Brasileira) passaram durante a guerra. O treinamento fazia parte da preparação para rodar, em fevereiro, o longa “A Montanha”.
Com direção de Vicente Ferraz, que há quatro anos vem preparando o filme, “A Montanha” retrata, justamente, a ação de quatro pracinhas em Monte Castello, na Itália, quando, após um ataque surpresa, sofrem pânico e acabam se perdendo do grupo. Quando se dão conta, estão perdidos entre as linhas alemãs e aliadas. Sem saber se devem voltar para a posição da noite anterior ou para a linha da FEB, sob o risco de serem acusados de deserção, eles acabam por vagar a esmo enfrentando frio, neve, até que encontram uma aldeia abandonada onde passam a noite. No dia seguinte, um correspondente de guerra se junta ao grupo. É ele quem, sem querer, acaba dando aos pracinhas a ideia perfeita para ‘serem perdoados’ do crime de deserção: cumprir uma tarefa até então considerada impossível, que é a de desarmar o campo minado mais temido da Itália. No caminho, o grupo acaba encontrando outros ‘desertores’: um partigiano (como eram chamados os heróis da Resistência italiana) e um oficial alemão cansado.
Para que a veracidade adquirida com o treinamento com os oficiais da 12.ª Companhia de Engenharia de Combate Aeromóvel seja ainda mais real, todo o filme será rodado na Itália, em montes nevados do nordeste italiano, em cenário que reproduz fielmente as condições enfrentadas pelos brasileiros quando combateram na Europa. “Imagine que, somado a tudo isso que você viu hoje aqui, nós ainda vamos ter de encarar a neve e o frio. Imagine que os pracinhas não tinham nem preparo nem equipamento para sobreviver neste ambiente de aridez branca. Foi terrível. Por isso, desde o começo, eu queria filmar no próprio local em que as ações reais se passaram, na Toscana, mas, por questões de orçamento, transferimos tudo para a região de Friuli-Venezia Giulia”, contou Ferraz, que dirige seu primeiro longa de ficção brasileiro. Antes, Ferraz ganhou público e crítica com o documentário “Soy Cuba – O Mamute Siberiano” e rodou também “O Último Comandante”, filmado na Costa Rica.
As filmagens, em fevereiro e março, devem durar seis semanas. Ao grupo de brasileiros, irá se juntar o italiano Sergio Rubini e o alemão Richard Sammel, de “Bastardos Inglórios”. O papel do jornalista de guerra, ainda que seja um jornalista brasileiro, será do ator português Ivo Canelas. O elenco internacional se justifica diante de uma realidade que está se tornando comum no cinema brasileiro: a coprodução. Orçado em R$ 9 milhões, “A Montanha” será coproduzido por Matias Mariani e Isabel Martinez (respectivamente das brasileiras Primo Filmes e Três Mundos Produções), o italiano Daniele M Azzocca (da Verdeoro) e o português Leonel Vieria (da Stopline). As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.