Versatilidade de Darín dá vida ao thriller ‘Sétimo’

Sétimo, de Patxi Amezcua, é o que hoje se chama na Argentina de “Darín movie”, ou seja, veículo para Ricardo Darín, que se tornou ator de rara credibilidade e sinônimo de sucesso para as produções das quais participa. Outro dia, o diretor Daniel Burman (de Abraço Partido e Ninho Vazio) disse que foi publicamente recriminado por uma espectadora por nunca ter feito um filme com Darín. Prometeu redimir-se e, na primeira oportunidade, trabalhar com o ator, contra quem, jura, nada tem. O próprio Darín, quando esteve faz alguns meses no Brasil, disse que nem ele se aguentava mais, de tanta exposição cinematográfica.

Piadas à parte, é mesmo um ator dotado de raro carisma. Darín encanta o público feminino, sem provocar grande rivalidade no masculino. Passa confiabilidade, integridade, apesar de seu primeiro papel de sucesso no Brasil ter sido de trambiqueiro em Nove Rainhas, de Fabián Bielinsky. Darín é como um Humphrey Bogart portenho. Admiramos suas qualidades e não apenas perdoamos seus defeitos, como os invejamos.

Em Sétimo, ele é Sebastián, advogado que vai pegar os filhos na casa da ex-esposa para levá-los a passear. Ele desce pela escada, elas, pelo elevador, para se encontrarem no térreo. Uma espécie de brincadeira inocente, para ver quem chega primeiro ao térreo. Por algum motivo, as crianças somem, como abduzidas por um disco voador. Não estão na rua. O porteiro não as viu. Não estão no andar onde deveriam estar. Onde podem ter ido parar? Diga-se que Sebastián está em meio a uma causa difícil, que envolve gente poderosa e de currículo pouco recomendável. Teriam algo a ver com o sumiço dos filhos?

O filme evolui como thriller, às vezes bem pouco convencional. “Ajudado” por um vizinho nada amistoso (um delegado de polícia), Sebastián assumirá, por conta própria, o encargo da investigação. Que, claro, ganhará um cunho emocional, pois afinal são seus filhos que estão desaparecidos.

Com boa dinâmica, Sétimo prende a atenção do espectador. Revela gosto por reviravoltas repentinas na trama (a exemplo do que acontece no já citado Nove Rainhas), e mesmo inversões das suspeitas, como fazia às vezes mestre Hitchcock. Não está se dizendo aqui que Sétimo tem a qualidade inovadora de um ou muito menos a excelência clássica do outro. É apenas um produto competente, e nem chega a ser ótimo filme, mas cumpre sua função de entretenimento sem grandes compromissos.

Dito isso, é bom acrescentar que não existe incompatibilidade entre inteligência e divertimento. Seria tão ridículo tirar grandes conclusões de Sétimo como negar seu óbvios méritos. Entre eles, a construção de um roteiro vertebrado, que, se não chega a ser genial, evita a banalidade a todo custo. Já é muito.

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