Arthur Verocai faz nesta sexta-feira, 16, e sábado, 17, no Sesc Pinheiros, as apresentações de lançamento de seu novo disco, No Voo do Urubu. É seu primeiro de estúdio nos últimos oito anos e o que dialoga com muitas frentes na música pop.
O álbum conta com a participação de Seu Jorge, Danilo Caymmi, Lu Oliveira, Vinícius Cantuária, Mano Brown e Criolo, um espectro revelador da abrangência de linguagem de Verocai. Mas as duas apresentações, por motivos de agenda, terão apenas três integrantes desse time no palco. Lu canta Minha Terra tem Palmeiras (de Verocai e Paulinho Tapajós), Criolo mostra O Tambor (parceria do rapper com Verocai) e Mano Brown chega com Cigana (composição de letra e música de Brown, com arranjo de Verocai).
A formação de grupo para o palco é um deleite raro. Verocai vai levar, além de banda de baixo, guitarra e bateria, cordas e sopros de um coletivo orquestral que marca seu trabalho desde o indecifrável (para a época) disco de estreia de 1972. O pesquisador Ruy Castro define bem essa particularidade do uso de orquestra “real” em um texto de apresentação do álbum. “Verocai é generoso. Numa música popular tão carente, por exemplo, de cordas e metais como a nossa, ele nos serve fartas porções de ambos.”
Mais do que a crise que tem reduzido formatos e elevado o número de apresentações à base da voz e do violão, os arranjos ‘gordos’ de Verocai soam por fora da onda de concepções secas e contidas que ditam as regras na música brasileira. “As pessoas querem vender. Ninguém parece muito preocupado em sonhar, pensar nos acordes, nas harmonias, nos timbres. O Sesc (seu disco foi lançado pelo Selo Sesc) me deu esse respaldo, essa carta branca para eu fazer como queria.”
Verocai nasceu no meio dos timbres. Sua música entorpeceu os norte-americanos que o valorizaram antes mesmo dos brasileiros pela riqueza de cores e de caminhos que apresenta, muitas vezes, de forma sobreposta. Agora, será que ele substituiria seus músicos por programas de computador usados por muitos compositores com precisão e talento? “Se não tiver dinheiro, posso usar. Mas nada vai soar como o pessoal de primeira que eu escolho para tocar as cordas da orquestra, os backings, os trompetes. Imagine que eu tenho Jessé Sadoc (trompete), o José Arimatéa (sax alto), o Eduardo Neves (coro). O pessoal das cordas é primeiro time também. Não tem computador que substitua com a mesma qualidade.”
Sobre a impossibilidade de rodar com sua grande formação pelo Brasil para lançar No Voo do Urubu, ele diz: “A crise só enfraquece a minha música. É muito mais difícil sair com esse disco para fazer shows nesse momento, mas o que importa é o resultado que conseguimos atingir”. Verocai, que teve sua redescoberta por meio de samplers de introduções e trechos de suas criações feitos por DJs, transita em dois mundos muitas vezes excludentes entre si, o orquestral e o pop. E, sem amarras, eleva a criação a patamares mais altos. Sobre ser “o homem à frente de seu tempo”, frase que ouviu em 1972, ele apenas diz: “Não fui eu quem inventou isso”.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.