Uma das mais belas turnês de Marisa Monte, Verdade Uma Ilusão ganhou registro em CD, DVD e Blu-Ray, formatos lançados agora pela Universal. Tendo como base o repertório de O Que Você Quer Saber de Verdade, mais recente disco de estúdio da cantora e compositora, lançado em 2011, o show combina, com lirismo, música e artes visuais. A música, claro, fica a cargo de Marisa e da banda que a acompanhou nesse tour, incluindo o power trio Pupillo (bateria e cocktail drums), Lúcio Maia (guitarras, violões e sitar) e Dengue (baixo) – do Nação Zumbi – e um quarteto de cordas.

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Já as artes visuais são contempladas na cenografia, que compila importantes artistas contemporâneos, como Tunga, Luiz Zerbini, Cao Guimarães, Thiago Rocha Pitta, Rivane Neuenschwander, entre outros – projeto que teve curadoria de Luisa Duarte.

Na gravação das apresentações realizadas nos dias 2 e 3 de agosto do ano passado, na Cidade das Artes, no Rio – e que abastece o novo trabalho ao vivo da cantora -, é interessante perceber como essa cenografia ‘mutante’ causa impacto mesmo enquanto admirada nas dimensões reduzidas de um aparelho de TV. A cama vazia de Dream Sequence I, de Janaina Tschäpe, com caligrafia de Arnaldo Antunes, por exemplo, parece concretizar a história de separação da música Depois. Já as dores de amor cantadas em De Mais Ninguém são sincronizadas com ÃO, de Tunga – projeção de uma sequência filmada dentro de um túnel urbano vazio.

Mas, naturalmente, as câmeras procuram o tempo todo Marisa Monte, a dona absoluta do palco, limitando a visão do espectador e, consequentemente, o espetáculo como um todo. Assistida presencialmente, essa composição de linguagens artísticas ganhava outro contexto – ora as obras serviam como cenário do show, ora chamavam tanta atenção para si que a música de Marisa virava trilha sonora daquela exposição ‘itinerante’.

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A turnê, encerrada no fim de 2013, contabilizou 120 shows, que aportaram em 20 cidades no Brasil e 12 no exterior, como Londres, Barcelona e Roma, e mais de 420 mil pessoas. Ao contrário de muitas turnês, que pegam emprestado o nome do disco que as inspira, o tour 2012/2013 de Marisa foi batizado com o título de uma das faixas do álbum O Que Você Quer Saber de Verdade. Em 2012, pouco antes de iniciar seus shows, a cantora justificou essa escolha. “Verdade é uma ideia tão subjetiva, tão impalpável. E você parte do pressuposto que existe uma verdade íntima em cada um. A verdade só existe no íntimo, não existe no plano do coletivo”, disse ela, na época.

Assim como no show, o DVD Verdade Uma Ilusão – Tour 2012/2013 abre com Blanco, vinheta tirada do álbum Barulhinho Bom (1996) – introdução não foi incluída no CD. Emenda, na sequência, duas canções do recente disco: O Que Você Quer Saber de Verdade, parceria dela com os amigos e parceiros ‘Tribalistas’ Carlinhos Brown e Arnaldo Antunes, e Descalço no Parque, bonita regravação que fez da clássica composição de Jorge Ben Jor (do disco Ben É Samba Bom, de 1964).

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Mas o repertório também é mote para revisitar mais de 25 anos de carreira. E Marisa, tocando violões, guitarras ou só como intérprete, passeia por antigos sucessos, como Arrepio (Carlinhos Brown), também do disco Barulhinho Bom; Diariamente (Nando Reis), de Mais (1991); Infinito Particular (parceria com Arnaldo Antunes e Carlinhos Brown), do disco homônimo (2006); e Gentileza (composição dela) e Não Vá Embora (parceria com Arnaldo Antunes), ambas do álbum Memórias, Crônicas e Declarações de Amor (2000).

Há ainda espaço para resgates, homenagens. Em Ilusão, Marisa faz a versão em português, assinada com Arnaldo Antunes, para a canção em espanhol Ilusión, de Julieta Venegas. As duas cantoras fizeram dueto da música, nos dois idiomas, no disco Julieta Venegas MTV Unplugged, gravado em 2008.

Ainda no trabalho ao vivo, Marisa grava, pela primeira vez, E.C.T., composição dela com Nando Reis e Carlinhos Brown – e cujos versos ‘Tava com cara que carimba postais/Que por descuido abriu uma carta que voltou’ ficaram eternizados na voz de Cássia Eller. Ela imprime à música a mesma força de Cássia, mas com mais doçura. “Cássia pediu uma música para gravar. A gente mostrou várias e ela gravou essa, e ficou linda. Quando a gente canta uma música que não é nossa, ela fica meio nossa”, contou Marisa, em 2012.

Em Sono Como Tu Mi Vuoi, outro momento-tributo, no caso à cantora Mina Mazzini, Marisa canta em italiano com fluência – resultado do período em que morou no país. Mesmo não captando a recente turnê em toda sua intensidade, Verdade Uma Ilusão – Tour 2012/2013, principalmente em DVD e Blu-Ray, vale pelo registro de um dos grandes shows da carreira da cantora. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.