Nada a contestar quanto ao Leão de Ouro atribuído a Vera Drake, de Mike Leigh, muito menos ao prêmio de interpretação feminina dado à intérprete do filme inglês, Imelda Stauton, no papel de pacata dona de casa que mantém ocupação paralela em sua vida. Também a atribuição do troféu de melhor ator a Javier Bardem por Mar adentro, drama de Alejandro Amenábar, era mais ou menos esperada.
Mas Mar adentro ganhou ainda o Leão de Prata, o segundo em ordem de importância do festival. Também o troféu de direção, dado ao coreano Kim Ki-duk por Binjip, caiu muito bem. O que se estranhou foi a ausência de qualquer menção ao mais forte concorrente italiano, Le Chiavi di Casa (As Chaves de Casa), de Gianni Amelio. E também o fato de que Wim Wenders, cotado até a véspera com seu Land of Plenty (Terra da Abundância), tenha saído de mãos abanando.
É assim mesmo. Veneza tem apenas sete troféus a dar e os cinco principais (melhor filme, direção, especial do júri, ator e atriz) não podem ser divididos, por regulamento. Quanto aos dois restantes, a Osella, pela contribuição técnica, foi para o japonês O Castelo Mágico de Howl, de Hayao Miyazaki, e o Marcello Mastroianni, para ator emergente, para os dois intérpretes do italiano Lavorare con Lentezza, Marco Luisi e Tommaso Ramenghi. Foi tudo o que a Itália ganhou, mesmo jogando em casa.
Binjip foi a grande surpresa do festival, porque, inscrito à última hora, nem se sabia que iria concorrer. Apareceu como “filme-surpresa”, uma invenção do diretor Marco Müller, e encantou a todos com a história do rapaz calado que dorme em casas desocupadas até que se apaixona por uma mulher. Filme de grande rigor na realização, quase sem diálogos, consegue unir leveza e profundidade.