Veneno nutritivo

A atração pela celebridade faz parte da televisão. Daí a exibição de programas como TV Fama, Atualíssima e A tarde é sua, especialmente dedicados a esmiuçar a vida pessoal de personalidades do ?show business?. Por trás das reportagens e aparições de atores, cantores e apresentadores, há uma lógica da exposição, que interessa tanto às emissoras quanto a muitos retratados. É algo que remonta ao ?star system? criado nos anos 20s do século passado pelos estúdios de Hollywood, estratégia promocional para o lançamento de novos artistas e sustentação dos consagrados.

Poucos jornalísticos deixam de incluir, mesmo que brevemente, alguma reportagem sobre ricos e famosos. O que muda é o espaço e o tom. Os três programas acima são inteiramente dedicados a tudo o que diz respeito à vida das celebridades. TV Fama, estrelado por Nelson Rubens e Adriana Lessa, inspira-se livremente no Entertainment Weekly, programa sobre famosos da tevê americana. A versão nacional inclui toda a sorte de aparição dessas personalidades e, quando não tem imagens de cobertura, exibe uma repetitiva seqüência de fotografias e ?tapes? antigos. Atualíssima, de Leão Lobo, assume ares de confidência, e A tarde é sua, de Sônia Abrão, tem o cinismo de narrar o resumo de novelas em tom de revelação.

Outros programas também incluem quadros ou, ao menos, reportagens sobre celebridades. Esse jogo de atração e de repulsa entre ?paparazzi? – os fotógrafos de escândalos – e famosos é mais do que um detalhe do jogo. É a regra do jogo. Há um gerenciamento de marketing na forma como artistas se relacionam com a imprensa. Não custa lembrar que a imagem pública de todo ator ou atriz é construída com o auxílio de assessores de imprensa, ?personal trainings?, consultores de moda, cabeleireiros e outros profissionais. Jornais, revistas e agora programas televisivos de fofoca desempenham um papel catalisador nesse processo de apogeu, declínio e morte virtual de um artista.

Artistas com atitudes ?bad boys? necessitam da superexposição em situações de risco. E o perfil inflamado é alcançado graças ao atrito – e mesmo o choque – com fotógrafos, repórteres e outros profissionais que atuam próximos às pequenas e grandes estrelas do ?firmamento televisivo?. Nesse caso, a trajetória da americana Paris Hilton é um primor, com o lançamento de uma nova imagem feminina, como nunca antes uma celebridade ousara. A herdeira de uma cadeia internacional de hotéis chegou a requinte de se expor em um filmete de sexo explícito. Um novo modelo de comportamento aparentemente inovador que atingiu seu objetivo de lançar mundialmente a imagem da atriz-celebridade. A mesma situação de Deu na internet e Virou Notícia elevou a apresentadora Daniela Cicarelli ao centro das atenções no ano passado.

O exagero de atitudes de fotógrafos que invadem a privacidade e de atores que reagem brutalmente ao assédio nada tem a ver com jornalismo e muito menos com um pingo de civilidade. O veneno do escândalo e da fofoca intoxica tanto a imprensa quanto as celebridades. Após a morte da princesa Diana, em acidente de carro provocado por uma perseguição de ?paparazzi?, Pelé comentou a tragédia com uma admirável lição de bom senso. Um dos homens mais fotografados de todos os tempos, ele contou que toda vez que fotógrafos estão em seu encalço, simplesmente pára o carro e posa. Sem mistério, a notícia se desfaz.

Grupos de WhatsApp da Tribuna
Receba Notícias no seu WhatsApp!
Receba as notícias do seu bairro e do seu time pelo WhatsApp.
Participe dos Grupos da Tribuna
Voltar ao topo