A primeira tela com a assinatura do pintor holandês Rembrandt, O Paciente Inconsciente, ou O Olfato, foi vendida na quinta, 10, na Tefaf Maastricht, a principal feira de arte europeia, antes mesmo da abertura do evento para um dos principais colecionadores norte-americanos, Thomas S. Kaplan, que já possui outras duas pinturas do artista que tratam dos cinco sentidos. O marchand Bernard Gautier, da Galeria Talabardon & Gautier de Paris, não revelou o preço da transação, mas a história da descoberta da tela é curiosa: ela foi comprada num leilão no ano passado e catalogada por engano como uma obra da escola continental do século 19, antes de passar por limpeza e uma acurada investigação de especialistas, que revelaram ter sido o óleo sobre madeira pintado entre 1624 e 1625 por um jovem Rembrandt, então com 18 ou 19 anos.
“É curioso que essa tela, concebida em tamanho pequeno (pouco mais de 12 cm de altura) se amplia quando se abre a segunda moldura com o fundo do aposento onde se encontram as três figuras”, diz o marchand Gautier, que pagou pouco mais de US$ 1 milhão pela tela.
Outra obra que causa sensação na feira, é um Livro das Horas inacabado dos irmãos Limbourg, datado de 1407, que pertenceu à família do cineasta italiano Luchino Visconti, avaliado em 12 milhões de euros, o mesmo valor pedido por uma tela do americano Lichtenstein, que no ano passado bateu recorde nos leilões, sendo vendido por US$ 100 milhões.
“Pode parecer caro, mas o livro dos irmãos Limbourg é sete vezes mais barato que qualquer rabisco feito por Cy Twombly”, compara o marchand Heribert Tenschert, brincando com o fato de contemporâneos como Jeff Koons investirem em arte antiga, que é o forte da Tefaf, apesar da grande presença de artistas modernos na feira holandesa, como Matisse e Picasso, cujas cotações são estratosféricas – uma tela de Matisse, O Artista e a Modelo, pintada em Nice, em 1921, está à venda por 12 milhões de euros na Galeria Hammer.
Cotações como essa não assustam os colecionadores, que lotam o pequeno aeroporto de Maastricht com seus jatinhos particulares. De pinturas da Escola de Paris ao espartilho de gesso usado pela pintora mexicana depois do acidente, há de tudo um pouco na Tefaf, que deve ampliar suas atividades este ano levando a feira para Nova York (serão duas edições anuais, uma em outubro e outra em maio de 2017).
O espartilho de Frida Kahlo está à venda no estande da galeria Sur, que tem ainda telas raras de Torres Garcia (de 1,4 milhão de euros a 3,5 milhões de euros) , é uma obra pessoal. Ela revela a angústia da artista mexicana, na ocasião (1950) internada no Hospital Inglês da Cidade do Mexico. Nessa espécie de colete, Frida pintou a foice e o martelo, símbolo de sua paixão comunista, e um feto, que traduz sua frustração de não poder ter filhos. “É uma obra que ficou guardada 50 anos por imposição de Diego Rivera”, conta o marchand Martin Castilho.
Os brasileiros não estão ausentes da Tefaf (Vik Muniz e os Gêmeos são vendidos por marchand estrangeiros), mas suas galerias ainda não estrearam na feira holandesa, que completa 30 anos em 2017. O CEO da Tefaf, Patrick van Maries, disse que espera a participação delas nas edições da feira em NY. “Talvez seja mais conveniente para as galerias do Brasil em termos de logística e de mercado, e espero que elas se inscrevam.”
O acesso à feira é restrito. Uma comissão avalia as obras e libera ou não a venda dos objetos só depois de um exame meticuloso de sua autenticidade. Afinal, não se brinca com uma feira cujo seguro ultrapassa 30 bilhões de euros. São 3 mil objetos que variam de esculturas gregas antigas ao mais recente trabalho de Anish Kapoor, passando por todos os mestres europeus modernos, de Monet (a galeria Richard Green, de Londres, tem uma tela pequena por 800 mil euros) ao surrealista Paul Delvaux (por 3,3 milhões de euros na galeria Thomas Sallis Art & Design).
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.