Um alto representante do Vaticano confirmou nesta sexta-feira que a Santa Sé está pedindo a seus fiéis um boicote ao filme O Código Da Vinci, argumentando que a história contém calúnias contra o cristianismo e poderia provocar uma revolta em todo o mundo, informou a agência de notícias italiana Ansa.
O monsenhor Angelo Amato – que no pontificado de João Paulo II era o número 2 na hierarquia do Vaticano e que agora, com Bento XVI, comanda a Congregação para a Doutrina da Fé – pediu o boicote em um pronunciamento feito na Pontifícia Universidade da Cruz Sagrada, mantida pelo movimento conservador Opus Dei.
"Espero que todos vocês boicotem este filme", disse o monsenhor. Ele considera que a obra, baseada no best-seller de Dan Brown, está repleta de "calúnias, ofensas e erros históricos e teológicos envolvendo Jesus Cristo, o Evangelho e a Igreja".
"São calúnias, ofensas e erros que, se fossem dirigidas ao Corão ou à Torá, iriam justificadamente provocar uma revolta em todo o mundo", sentenciou.
Líderes católicos têm criticado repetidamente o livro e seu respectivo filme, que tem estréia prevista para 19 de maio e é estrelado por Tom Hanks e Audrey Tautou.
De acordo com a história, Jesus Cristo teria se casado com Maria Madalena, com quem teve descendentes, o que foi alvo de um acobertamento protagonizado pela Igreja Católica, particularmente pela Opus Dei, organismo extremamente próximo do Vaticano.
No ano passado, o cardeal italiano Tarcísio Bertone – antecessor de Amato na Congregação para a Doutrina da Fé – já havia proposto o boicote ao livro. Neste mês, o reverendo Raniero Cantalamessa, oficial do Vaticano, denunciou teorias que tiram proveito negando os ensinamentos da Igreja sobre Jesus Cristo – uma óbvia referência ao filme.
Já o Opus Dei, que no romance é retratado como uma seita assassina e sedenta de poder, recuou da idéia do boicote lembrando que as críticas ao filme Paixão de Cristo, de Mel Gibson, somente serviram para alavancar a publicidade do mesmo.
O Opus Dei, entretanto, pediu que o estúdio Sony coloque um aviso no filme ressaltando que se trata de uma obra de ficção. A Sony nem respondeu ao pedido, mas seu porta-voz esclareceu que a empresa sempre entendeu O Código Da Vinci como uma obra de ficção que não pretende prejudicar qualquer organização.
No início desta semana, o Ministério do Interior da Itália teve de remover um cartaz promocional do filme afixado no andaime que acompanha a fachada de uma igreja em reforma no centro de Roma, depois que líderes religiosos reclamaram do pôster.