Vargas Llosa: Nobel é reconhecimento à literatura latina

Em mais de um século de existência, o Nobel premiou apenas 11 escritores de língua espanhola, desde que o dramaturgo espanhol José Echegaray y Eizaguirre (1832-1916) recebeu o prêmio, em 1904. Ontem, a Academia Sueca corrigiu uma injustiça e finalmente lembrou do peruano Mario Vargas Llosa, que, aos 74 anos, vai receber o Nobel de Literatura por seis décadas dedicadas à literatura, carreira que começou com uma peça de teatro escrita aos 16 anos, “La Huida Del Inca” (A Fuga do Inca). Até mesmo Llosa demonstrou surpresa. “Achei que a Academia Sueca havia me esquecido”, declarou ao ser notificado do prêmio. “Há muitos anos mencionou-se meu nome, mas não sabia se era sério ou não”, disse Vargas Llosa, colaborador do jornal O Estado de S. Paulo, de Nova York, onde dá aulas na Universidade de Princeton.

O escritor disse que o prêmio “é um reconhecimento à literatura da América Latina e da Espanha”, revelando esperar que seus livros “tenham para os leitores uma importância comparável ao papel que Cervantes e Flaubert tiveram em minha vida”. A Academia disse que concedeu o prêmio a Vargas Llosa por sua “cartografia das estruturas do poder e mordazes imagens da resistência, da rebelião e derrota do indivíduo”. Llosa gostou da justificativa. A questão da soberania individual diante dos furacões históricos tem sido uma preocupação do autor, que, em “A Verdade das Mentiras”, faz a defesa intransigente da fortaleza interior do doutor Jivago de Boris Pasternak (1890-1960), um dos autores analisados no livro e que, como ele, ganhou o Nobel em 1958.

Vargas Llosa, que escreveu mais de 30 romances, peças de teatro e ensaios, nasceu em Arequipa, num vale da cordilheira dos Andes. Ele teve de migrar com a mãe divorciada para Cochabamba, Bolívia, onde concluiu seus estudos básicos. Só na volta ao Peru, em 1946, aos 10 anos, conheceu o pai, antes de ingressar num colégio militar. Ecos de sua adolescência surgem em “Tia Julia” e o “Escrevinhador”. Desde que foi publicado, em 1977, esse permanece como um dos seus livros mais populares ao lado de “Pantaleão e as Visitadoras”, surgido em 1973.

Vargas Llosa tem o dom de transformar crônicas sobre a realidade peruana em fábulas morais, recorrendo a personagens que migram de um livro para o outro sem muita cerimônia, como o cabo Lituma, que saiu do romance “A Casa Verde” para se tornar o protagonista de “Lituma nos Andes”. Neste, o escritor critica os guerrilheiros do Sendero Luminoso. Seu mais recente livro é “Sabres e Utopias” (Objetiva), em que critica o esquerdismo de colegas escritores e faz uma análise da política e da literatura latino-americana contemporânea. As informações são do Jornal da Tarde.

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