Vanguarda e apoteose marcam Skol Beats

Se o Skol Beats distribuísse prêmios para escolha da crítica e do público, a edição de 2006 teria dois vencedores óbvios. A escolha da crítica seria o LCD Soundsystem, que já causara muito burburinho nos bastidores mesmo antes de chegar a São Paulo e atraiu quase todos os jornalistas e DJs que não se apresentavam na hora para assisti-los.

Já o prêmio do público seria sem dúvida dado à banda Prodigy. Pois enquanto o LCD fez uma apresentação vanguardista, que deixou quase todos os espectadores do Skol Live Stage sem entender muito o que se passava, nunca na história do festival eletrônico houve tamanha comoção quanto no show explosivo do Prodigy, que conseguiu praticamente esvaziar as outras tendas e palcos durante as quase duas horas em que se apresentaram.

O LCD subiu ao palco com meia hora de atraso. O vocalista James Murphy e companhia, que se apresentam no formato de banda convencional e fazem uma espécie de disco punk, utilizando sintetizadores e teclados para fazer algumas bases eletrônicas, subiram ao palco quase 40 minutos depois do programado. Foi um show competente, mas que apesar de intenso não empolgou o público do Skol, acostumado com atrações mais populares e voltadas ao eletrônico. Os pontos altos da apresentação foram os hits Daft Punk is Playing at my house, que teve uma roupagem mais funk e acelerada, a faixa Tribulations, essa sim uma verdadeira representante da e-music, e Yeah Yeah Yeah, que fechou a apresentação numa virtuose de mais de 10 minutos, com os integrantes trocando de instrumentos.

Mas a essa altura do festival, literalmente milhares de espectadores faziam um caminho de mão única, saindo das tendas e do palco trance em direção ao palco principal, todos com um único desejo: ver de mais perto possível o show dos ingleses do Prodigy. E quando Liam Howlett e sua cabeleira punk que caracteriza o grupo, Maxim e seu rosto pintado, e os músicos Keith Flint e Leeroy Thornhill subiram ao palco, tênis, celulares e carteiras foram perdidas aos montes devido à catarse coletiva que se formou. Não havia mais espaço em frente ao palco e as pessoas se acotovelavam em cima de banheiros, torres de som e até mesmo no espaço reservado aos bares próximos. Não se tem notícia de nenhuma atração, em nenhuma edição do festival, ter atraído tantos espectadores para um único palco.

O show da banda, apesar de datado (seu último disco, Always Outnumbered, Never Outgunned, é de 2004, e o auge da banda se deu em meados da década passada, com o lançamento de The Fat of the Land, em 1997), atrai tanto o público, já que foi uma das responsáveis pela popularização da música eletrônica, fazendo uma mistura palatável de batidas eletrônicas com atitude e tendências de uma verdadeira banda punk e até hip-hop. Todos os hits que contam a história do Prodigy, como Smack My Bitch Up, Breath e Serial Thrilla foram cantados em uníssono pelos presentes, que pularam e se empurraram durante as quase duas horas de apresentação.

A vez do rock

Seguindo uma tendência que acontece em todo o mundo, a edição de 2006 apostou em atrações que fazem uma boa mistura de rock com eletrônica, caso do LCD Soundsytem e até mesmo do Prodigy, que tem guitarrista e baterista na sua formação. Outra apresentação inusitada que se deu bem no festival foi a banda paulistana Cansei de Ser Sexy, que se apresentou no alto de um trio elétrico juntamente com o DJ Camilo Rocha. O Cansei, que tem uma bela legião de fãs apesar do pouco tempo de estrada (pouco mais de dois anos), atraiu também uma quantidade boa de espectadores para assistirem um cross over de rock com eletrônica.

Mesmo com o clima de medo que domina São Paulo devido às ações do PCC na cidade, 59,5 mil pessoas, segundo a organização, estiveram no último sábado no Anhembi. O número marca um novo recorde de público e faz do Skol Beats o maior festival de música eletrônica da América Latina. Em 2005, o evento reuniu 57.500 espectadores.

Grupos de WhatsApp da Tribuna
Receba Notícias no seu WhatsApp!
Receba as notícias do seu bairro e do seu time pelo WhatsApp.
Participe dos Grupos da Tribuna
Voltar ao topo