A editora portuguesa Tcharan lançou, em maio, A Inocência das Facas, coletânea com textos de 10 escritores de lá sobre a temática da violência contra crianças. Os direitos de publicação da obra no Brasil foram oferecidos a Simone Paulino, que estava começando sua editora – a Nós.

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Porque gostava do trabalho de muitos dos ilustradores e, claro, da literatura de José Saramago e Valter Hugo Mãe, dois dos autores, ela decidiu publicá-la. A notícia foi antecipada na coluna Babel do dia 11, quando o imbróglio começou.

“Assim que saiu a notícia, recebi um e-mail da agente que intermediou a compra dos direitos. Ela pedia desculpas, e esclarecia que, por conta do contrato de exclusividade que o autor mantinha com outra editora brasileira, ele não poderia autorizar a publicação do texto especificamente no Brasil. Sendo assim, havia solicitado que a Tcharan retirasse o seu conto da coletânea na edição brasileira para não ter problemas com a sua editora”, explicou Simone Paulino.

“A Cosac não contatou o autor para impedir a publicação deste texto”, respondeu Florencia Ferrari, diretora editorial da Cosac Naify, por meio de sua assessoria de imprensa.

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Valter Hugo Mãe disse ao jornal O Estado de S.Paulo que foi surpreendido pela notícia da edição brasileira e que não quer o texto publicado por não ter ficado satisfeito com seu trabalho. “O texto em causa foi cedido para o que seria uma edição perfeitamente circunscrita, tive pouquíssimo tempo para o escrever e acedi a publicar porque era para apoiar uma causa em que acredito e porque fui muito pressionado por uma pessoa amiga e responsável pela editora. Eu não acho o texto excelente e, por isso, não tenho qualquer interesse em republicar, nem em Portugal nem em lugar algum.” Paulino entende. “Mas penso que essa decisão tem que ser tomada na hora da assinatura do contrato. Segundo a editora portuguesa, eles tinham o direito de publicação para o mundo todo”, explicou.

A presença de Hugo Mãe na coletânea pesou na decisão de Simone Paulino de incluir a obra, que, em Portugal, teve o apoio da Cruz Vermelha, em seu catálogo que já conta com A Divina Jogada, de José Santos e Eloar Guazzelli; Apocalipse Nau, também de Guazzelli; e Eu Sou Favela (vários autores).

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“Sou leitora atenta e fiel à obra do Valter. Claro que esse texto não tem a mesma potência criadora de Filho de Mil Homens, A Máquina de Fazer Espanhóis ou A Desumanização, que são os meus preferidos. É um texto mais singelo, curto, rimado, mas há um diálogo perceptível com seus outros livros, sua temática e sua poética. Gosto muito do texto e sinto ter que retirá-lo da coletânea”, comentou. Seu substituto ainda será anunciado e o livro deve sair em setembro. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.