Quando o trainel é puxado, surge o deslumbramento: o quadro Colheita de Café, que Manabu Mabe pintou em 1953, sobre uma tela formada por saco de arroz. “Trata-se de um exemplar de sua fase cubista”, avalia a pesquisadora Elly de Vries. Ela comanda um grupo de conservadoras, responsáveis por um verdadeiro tesouro: cerca de 1.200 obras (entre pinturas, gravuras, fotos, esculturas e desenhos) que compõem o Núcleo de Artes Visuais do acervo do Banco Santander. “Na verdade, a memória institucional soma mais de 200 mil itens, entre documentos, mobiliário, equipamentos e outros objetos ligados à história do sistema bancário brasileiro”, completa Elly, gerente de Marketing Cultural do banco.

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Trata-se de uma coleção que, somente entre as artes visuais, traz obras representativas das correntes abstratas e figurativas que foram marcantes no Brasil a partir da década de 1940. “Um acervo tão valioso do ponto de vista cultural que o banco decidiu liberar a visitação pública”, informa Elly. Assim, quem desejar conhecer as peças desse tesouro necessita apenas agendar uma visita gratuita, o que pode ser feito via e-mail (acervo.cultural@santander.com.br). A equipe comandada por Elly pretende receber grupos formados em média por 15 pessoas que, durante quatro horas, poderão descobrir não apenas as obras disponíveis na reserva técnica (local normalmente invisível para o público, onde são guardadas peças artísticas que não estão em exposição) como também objetos antes comuns em bancos, de antigas calculadoras a monumentais relógios de parede.

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O acervo do Santander é fruto da união das coleções que foram reunidas ao longo dos anos, graças a uma sucessão de fusões entre bancos nacionais, hoje agrupados sob a marca do grupo espanhol. Desde que se instalou no Brasil, em 1982, o Santander adquiriu diretamente cinco bancos, entre eles grandes instituições como Banespa (em 2000) e o ABN Amro Real (2008). “No meio dessas movimentações, eram incorporadas também as coleções artísticas que cada uma detinha”, conta Elly. Segundo ela, nos anos 1950 e 1960, quando o Brasil viveu um período desenvolvimentista, tornou-se um hábito dos proprietários de bancos a valorização de seus acervos de pinturas e esculturas, o que os impulsionava a adquirir obras que já despontavam como preciosas.

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O processo de fusão permitiu também que as coleções se diversificassem. Quando adquiriu o ABN Amro Real, por exemplo, o Santander herdou o patrimônio de outras instituições que faziam parte do grupo, como o do Bando Sudameris que, ao longo de sua história, formou um invejável conjunto de obras de abstração informal de artistas japoneses, como Tomie Ohtake e o próprio Manabu Mabe. A miscigenação, aliás, marca o acervo do banco. Assim, além dos já citados, há obras de outros japoneses, como Tikashi Fukushima, Wakabayashi, Kaminagai e Flávio-Shiró; os italianos Volpi e Fúlvio Pennacchi, o suíço John Graz, a húngara Yolanda Mohalyi e a polonesa Fayga Ostrower.

O núcleo de gravuras ainda sedia obras de Lívio Abramo, Arthur Luiz Piza, Renina Katz, Maria Bonomi, entre outros. Essa coleção vem sendo ampliada com maior intensidade nos últimos anos, por meio de aquisições de arte contemporânea brasileira, com trabalhos de nomes celebrados e emergentes como Marcos Chaves, Ana Elisa Egreja, Cássio Vasconcellos, Luiz Braga, Paulo Almeida, Janaína Tschäpe, Oscar Oiwa, entre outros.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.