Luc Besson tinha 10 anos quando descobriu as aventuras de Valerian. Laureline, a parceira do herói, foi seu segundo amor – o primeiro foi a garota no final de Mógli, a revisão de Rudyard Kipling (O Livro da Selva) pela Disney. Besson amava Valerian e Laureline porque, embora vivessem no espaço, pareciam próximos dele. “Brigavam, se divertiam, questionavam tudo, eu achava o máximo”, disse em São Paulo. Besson veio ao Brasil acompanhado pelo ator Dane DeHaan. Deram uma coletiva, entrevistas individuais, tudo para promover Valerian e a Cidade dos Mil Planetas, que estreia nesta quinta-feira, 10. DeHaan e Cara Delenvigne formam o casal de protagonistas.

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Nos EUA, a revista The Hollywood Reporter decretou o fracasso e disse que não é mais preciso procurar pelo próximo vencedor da Framboesa de Ouro, para o pior filme do ano. Besson já venceu antecipadamente, e por Valerian. Injustiça, e da grande.

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Valerian e a Cidade dos Mil Planetas é bom, mas está na contramão das ficções científicas de super-heróis que ditam as cartas em Hollywood. Besson odeia esses filmes de homens de uniformes, dotados de superpoderes. E quanto a ser o pior – só se De Canção em Canção, o novo (velho) Terrence Malick for hors-concours e não puder concorrer.

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Laureline não é uma super-heroína, mas é forte. “Fui criado por minha mãe, e isso marcou”, diz o diretor. E o filme é de amor. A dupla tenta salvar o universo – um planeta, em especial – do louco militarista que inicia uma escalada destruidora para esconder seu crime. Não é bem o lado escuro da Força, mas o brilho do amor. Valerian é mulherengo e precisa esvaziar sua lista de conquistas para chegar a merecer Laureline – é a lição que ele aprende com Bubble, a personagem de Rihanna, que rouba cena numa performance no cabaré espacial.

Besson trabalhou na adaptação de Valerian nos últimos sete anos. Só os efeitos lhe tomaram dois anos e meio. “Houve momentos nesse período em que eu me sentia mais em Alpha do que pertencendo ao mundo real. Mas aí você chega em casa depois de um dia no estúdio e a mulher e os filhos te despertam correndo do sonho. ‘Vai colocar o lixo lá fora’, ‘Pai, preciso de tênis novos.’ Como artista, vivo a contradição. Sonho alto, mas são as banalidades do cotidiano que me humanizam.” Por falar em humanidade, Besson conta o que o atraiu na história – “Foi o fato de os alienígenas virem dar lições de gente aos humanos.” Um filme de amor não corre o risco de ser piegas, banal? “Pode até ser, mas sem afeto e respeito à diversidade, não vejo esperança.”

O filme abre-se com imagens de tolerância. Embaixadores de todo o mundo apertam-se as mãos. Alguns são tão estranhos que nem mão têm. Como se cria toda essa bizarrice? “Muita coisa vem do comic (Valerian é um comic francês). Mas a verdade é que reuni uma centena de artistas gráficos e conceituais muito talentosos. Havia um brasileiro entre eles, por sinal. E cada um me trouxe sua visão.” Para um cara que trabalha com tecnologia de ponta – e muitos efeitos -, Besson chega a ser engraçado. “Sou ruim com esses novos aparatos. Volta e meia meu filho me ajuda com o celular e o iPad. ‘Não é assim, pai’, é o que mais ouço dele. Ainda escrevo minhas histórias à mão. E ouvindo música.” As músicas que vai colocar na trilha? “Em geral, só penso depois. No caso de Valerian, havia comprado os direitos do (David) Bowie há quatro anos e sabia que ia usar (na abertura).”

Em 2000, Besson presidia o júri de Cannes e o festival promoveu um grande seminário para discutir novas tecnologias. Besson e seu júri ratificaram o novo, premiando Lars Von Trier – Dançando no Escuro. Imaginava que tudo ia evoluir tão rápido? “Desde a passagem do silencioso para o sonoro, as grandes transformações têm sido vertiginosas. A questão é – no fim de toda mudança, seguirá sendo cinema?” Três anos depois de Lucy, o repórter enfim pergunta a Besson – a mulher (Scarlett Johansson) que vira computador é a sua interpretação da gênese de Hal 9000, o supercomputador da obra-prima de Stanley Kubrick, 2001? “Mais ou menos. O que Lucy diz no fim? Que estará em toda parte e será invisível. E quem é onipresente e invisível? (Deus.) Para mim, é o nascimento da religião.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.