Vaidosa rusticidade

Humberto Martins tem feito personagens cada vez mais toscos. Depois do asqueroso feitor Bruno em Sinhá-Moça, o ator de 45 anos volta à tevê na minissérie Amazônia – De Galvez a Chico Mendes como Augusto, um coronel seringueiro. Previsto para aparecer apenas na segunda fase da trama de Glória Perez – que nesta produção homenageia seu estado natal – Humberto comemora não ter precisado ?malhar? para compor o personagem. Afinal, sempre que interpretava as tramas de Carlos Lombardi, o ator aparecia sem camisa e com o abdome obrigatoriamente definido a cada tomada. ?Uma vez o Antônio Fagundes chegou a brincar comigo dizendo: ?Desculpa, Humberto! Não o reconheci! Você está de camisa!?. Se fosse outro, teria ficado chateado!?, acredita o ator.

Na verdade, Augusto faz parte da nova safra de personagens de Humberto que não explora o corpanzil do ator. Desde Laerte, de América, quando o ator fez questão de aparecer sempre com roupa abotoada até o pescoço, passando pelo diabólico feitor da última novela das seis da Globo, nenhum deles exigiu um físico atlético.

Muito menos Augusto, que vive um dos ?coronéis de barranco?, homens rudes que exploravam os seringalistas no Acre. Para se familiarizar com a história daquela região, que será contada em 48 capítulos a partir do próximo dia 2 de janeiro, o ator garante que já leu mais de quatro livros que retratam o penoso dia-a-dia dos seringalistas e a disputa do Brasil com a Bolívia pelo estado. ?Ele não é um cara mau, mas é explorador. Trai a mulher com outra e outras coisas dos machões da época?, diz.

O ator garante que Augusto também é um homem bem objetivo. ?Sabe como eu sei disso? Pelas entrelinhas do texto. Se as falas têm muitas vírgulas, sei que é um homem pausado, pensa no que diz. Se não tem vírgulas, é objetivo, se existem muitas reticências, é um cara inseguro?, gaba-se, com seu habitual ?Está entendendo?? no final de cada frase.

Em seu 19.º trabalho na tevê, o ator, que estreou na telinha em 1989 como o Otávio, de Sexo dos Anjos, só alcançou seu primeiro papel de destaque em Barriga de Aluguel, com o caminhoneiro Antônio, na trama de Glória Perez. A autora volta e meia escala Humberto para suas produções. ?Humberto foi minha primeira composição mais ousada. Era fácil para mim esse universo de caminhoneiros porque nasci e fui criado em Nova Iguaçu e convivia muito com eles?, explica Humberto, se referindo ao município da Baixada Fluminense, no Rio.

No entanto, desde a época que estreou na tevê, Humberto sabe que o porte avantajado o ajuda a representar heróis. E, de quebra, atrair olhares lúbricos para o corpo seminu, motivos pelos quais foi tão requisitado para tirar a roupa em tramas como as de Lombardi. ?Tenho traços e feições de galã. Não faço força para ser, mas esse é o meu ?physique du rôle?, crê, sem disfarçar a falta de modéstia, antes de emendar: ?Até mesmo o feitor Bruno, que era uma figura ignorante e praticamente comia o cigarro, poderia ser apto a envolvimentos amorosos se eu quisesse?, assegura o ator que, para manter a forma, nada três vezes por semana, pratica surfe, joga golfe e ainda arruma tempo para velejar. ?Hoje estou mais relaxado, mais à vontade. Só não pratico esportes mais brutos como o futebol. Não vou querer me machucar e perder um personagem?, avalia.

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