Em dezembro de 2002, quando começou a turnê do show “Uns Dias”, baseado no disco “Longo Caminho”, lançado meses antes, os Paralamas do Sucesso comemoravam 20 anos de carreira e a recuperação de Herbert Vianna do acidente que o deixou preso a uma cadeira de rodas. O público os recebeu de braços abertos, no Brasil e na Argentina, e surgiu a idéia de gravar um DVD, que fosse uma festa da geração deles.
A comemoração foi em dezembro do ano passado, no Olympia e o registro chega às lojas em DVD, álbum duplo com todo o show e CD simples com músicas que não tinham registro ao vivo.
Herbert Vianna, conta que tem ouvido com imenso prazer o DVD e o CD. “Estou viajando de montão nessas imagens e elas me estimulam a compor mais. Sempre dá vontade de fazer o máximo nos shows, mas devido aos danos pós-acidente, esse plano só se realiza com a ajuda de dois grandes companheiros como o Barone e o Bi Ribeiro (baixista do Paralamas)”, elogia.
No DVD, essa cumplicidade é evidente. Eles tocam no meio da platéia, como se estivessem em casa. Herbert atravessa a multidão que o recebe com um carinho respeitoso, cuidando para sua segurança e conforto. “Nunca tivemos esse tipo de estrelismo e a onda de sentir de perto o olhar das pessoas, ver sua reação é sempre muito intensa. É um retorno fundamental”, diz Herbert.
A festa já estava boa só com os Paralamas, mas eles queriam comemorar com os amigos e chamaram vários deles para o palco. Roberto Frejat, do Barão Vermelho, Nando Reis (ex-Titã), Edgard Scandurra (Ira!), Dado Villa-Lobos (ex-Legião Urbana) George Israel, Paulo Miklos (ainda Titã) e Djavan foram lá para gravar com eles, músicas que só tinham registro em disco (como “Uma Brasileira”, cantada com Djavan) ou faz parte da história dessa geração que pôs o rock de novo nas paradas brasileiras, nos anos 80, e agora chega à maturidade (como “Que País É Esse?” que tem Dado na guitarra e nos vocais).
“Uns Dias” vai para as lojas (com opções para todos os bolsos) e o grupo continua na estrada, mas fora do País. No mês que vem, eles fazem três shows nos Estados Unidos (Boston, Nova York e Miami) e, em julho, participam de vários festivais na Europa, inclusive o de Montreux, na Suíça, onde, nos anos 80, gravaram seu primeiro disco ao vivo, D.
CD dos 90 anos de Dorival Caymmi
O compositor Dorival Caymmi faz 90 anos em 30 de abril, mas o presente para as dezenas de milhares de brasileiros que embalam a vida com sua música já está pronto. É o CD “Para Caymmi”, de Nana, Dori e Danilo, seus filhos, que gravaram 20 sambas dele, todos clássicos. A idéia foi de Nana, que há um ano e meio lançou “O Mar e o Tempo”, com as canções praieiras de Caymmi. Este disco é complemento daquele e também uma reunião da família na data.
A escolha do repertório foi pragmática. Entraram 20 sambas feitos só por Dorival e que todo mundo canta desde que se entende por gente, mas nem sempre lembra que é dele. “No Brasil, costuma-se atribuir a música ao cantor, como acontece agora com ‘A Vizinha do Lado’ (tocando sem parar na novela ‘Celebridade’, tema da manicure Jacqueline Joy)”, comenta Dori.
Dorival é mesmo fundamental, rima tão pobre quanto verdadeira. Ele nasceu em Salvador, em 1914, chegou ao Rio com 24 anos, já sambista, tentando ser jornalista. De cara, encantou dois poderosos da época, o empresário Assis Chateaubriand, dono de poderosas redes de rádios e jornais, e a cantora Carmem Miranda, estrela absoluta da época, a quem ele ensinou ginga, malícia e a cantar sambas brejeiros como “O Que É Que a Baiana Tem?”, primeiro hit do compositor, em 1939. De lá para cá foram cerca de 200 músicas e todas fizeram sucesso de alguma forma.
Quem ouvir “Para Caymmi” vai concordar, pois não há tradução melhor do Brasil que “O Samba da Minha Terra”, “Dois de Fevereiro”, “Eu não Tenho onde Morar”, “Saudade da Bahia”, “Vatapá”, “Rosa Morena” e outros sambas do disco. “Mais para a frente, vou gravar um disco só com seus samba-canções”, prometeu Caymmi.