Cena do Gabinete de Joana. |
Assistir à Do Gabinete de Joana, escrita por Rubens Rewald e dirigida por Edson Bueno, é como se defrontar com a força e o poder do universo feminino. Não, Joana (Kassandra Speltri) não queima sutiã em praça publica. Escolhe uma tese de doutorado que permite o contato com a feminilidade de sua essência, a força feminina da sua alma, para mergulhar no feminismo.
O tema? Christine de Pisan, considerada a precursora do movimento em defesa (?) das mulheres, que viveu no século XV. Na pesquisa, acaba se encontrando com outra heroína, Joana D’Arc, a mulher que se vestiu de homem para defender a França na Guerra dos Cem Anos. D’Arc, que curiosamente tem o mesmo nome da protagonista da peça, é homenageada por Pisan no poema Balada de Joana D’Arc e a duas acabam sendo colocadas lado a lado por Joana.
Envolvida com a profundidade de Pisan e D’Arc, Joana se fecha em um mundo delimitado em seu gabinete de estudos, onde o único contato com a realidade vem com as visitas da mãe, interpretada pela experiente Rosana Stavis e de seu namorado, na pele de Guilherme Pierri. No entanto, ela não faz questão de ser atenta a eles, tal o seu envolvimento com o tema desenvolvido.
Entre as tentativas de análise da obra e exercícios de body combat, que quebram o ritmo da narrativa e porque não dizer, servem de válvula de escape para Joana, ela sonha. E nesses sonhos, recebe a visita das próprias Christine de Pisan e Joana Dárc, que carregam a seriedade do feminino e de Eros e Afrodite, que despertam a sensualidade e a sexualidade inerentes a toda mulher e muitas vezes se reprime em função das imposições da sociedade. Um profundo estudo da alma feminina.
Detalhes
O texto bem amarrado de Do gabinete de Joana o torna compreensivo. Apesar das quebras de ritmos e intercalação de personagens, tudo fica bem delineado, fazendo o espetáculo fugir da “mania” do teatro do absurdo, entre os “mortais” conhecido como expressão “cabeça”.
Talvez a grande falha da montagem seja a questão da iluminação, que cai no lugar comum de dar a um gabinete e a uma situação ensimesmada um tom sombrio, escuro, que em alguns momentos acaba deixando tudo um pouco cansativo. É recomendado não entrar no teatro se estiver com sono.
Na interpretação, quem acaba roubando a cena é a experiente Rosana Stavis, que dá corpo à mãe de Joana, à Afrodite e à Christine de Pisan, numa interpretação delicada e forte ao mesmo tempo. Mas isso não quer dizer que o trabalho de Guilherme Pierri e de Kassandra Speltri não seja interessante. O trio tem presença de palco e dá um show de expressão corporal. Completo.
Serviço
Do Gabinete de Joana
Quando: De quinta a domingo, sempre às 21h, até 4 de julho. Onde: No Espaço Teatro Regina Vogue (Shopping Estação Av. Sete de Setembro, 2775). Quanto: R$ 10,00 e R$ 5,00 (estudantes e classe artística). Informações: (41) 2101-8292
Coxia
– O diretor da peça, Edson Bueno, é polivalente. Dramaturgo, roteirista, produtor e ator, ele já ganhou sete prêmios Gralha Azul como ator, diretor e produtor – e um troféu Poty Lazarotto como diretor e autor.
– O último trabalho de Bueno antes de Do gabinete de Joana foi o premiado Vermelho sangue amarelo surdo, que contava a vida de Van Gogh, interpretado por Ranieri Gonzalez.
– A atriz Kassandra Speltri, que também é artista plástica, tem como trabalhos mais marcantes as produções infantis A revolução dos livros e O grande rei Leão, ambas dirigidas por Maurício Vogue e produzidas por Regina Vogue.
– O ator Guilherme Pierri, que também produz Do gabinete de Joana, integrou o elenco do programa Sandy & Junior por duas temporadas, mas marcou sua carreira de ator no cinema, fazendo parte do elenco do curta-metragem O fim do ciúme, de Luciano Coelho e do longa O preço da paz, de Paulo Morelli.
– A experiente atriz Rosana Stavis, que ganhou o primeiro Gralha Azul em 1987, por Galileu Galilei, de Brecht, trabalho a primeira vez com Edson Bueno em 1990, no espetáculo New York por Will Eisner. Hoje ela divide os palcos do teatro com os de casas noturnas, onde se apresenta com a banda performática Denorex 80.