Bárbara Paz e Carlos Casagrande, protagonistas de Marisol. |
Marisol é o típico caso do “melhor isso do que nada”. Com a interrupção da produção de novelas na Record, a Band não investindo mais no setor e a Rede TV! preferindo importadas, como Betty, a Feia, Marisol é a única opção de trabalho para atores fora dos domínios da Globo.
Por isso, o elenco acaba tendo de “rir para não chorar”, pois mesmo sendo uma produção de qualidade duvidosa, emprega algumas dezenas de profissionais. Mas enquanto representa uma saída “off-Globo” para os atores, a novela do SBT chega na reta final evocando muito mais o choro do telespectador do que o riso.
Marisol é um dramalhão clássico e não foi mal no Ibope. A novela conseguiu uma média de 15 pontos, o que pode ser considerado bom, pois no mesmo horário a Globo exibe o tradicionalíssimo Jornal Nacional.
Marisol é a quarta das 50 novelas previstas na parceria entre o SBT e a mexicana Televisa. O risco, no caso, foi escalar Bárbara Paz como protagonista e Alexandre Frota como vilão, ambos no embalo da primeira versão do Casa dos Artistas, que rendeu grande audiência para o SBT. Na pele do mocinho, Carlos Casagrande.
A escalação deu mais certo em termos de Ibope do que em retorno artístico. Frota e Casagrande até poderiam alçar vôos mais altos nas produções mexicanas. Ambos possuem um repertório de, no máximo, duas expressões: triste e alegre. São da linhagem dos colegas da Televisa, detentores de rostos virgens de movimentos.
Já Bárbara Paz surpreendeu e se destacou na pele da sofredora protagonista e é um dos exemplos que mostra a mistura de talentos em Marisol. A produção traz atores totalmente desnivelados. Por isso, não acontece “bate-bola” nas cenas. Vera Zimmerman se destaca quando aparece, por exemplo. Consegue dar algum sentido às vilanias da advogada Sandra e não apenas falar o texto previsível da adaptação. Jonatas Faro também convence como Gil, o filho problemático de Marisol que foi raptado quando criança.
Com raras exceções de talento, a novela mostra o tanto que o SBT precisa evoluir na produção dramatúrgica. Não basta ter um complexo de estúdios ao estilo do Projac da Globo. É preciso ter um padrão de qualidade mais elevado.
Em Marisol são nítidos erros primários, como sombra no rosto dos atores e vultos retorcidos no cenário. Investir em externas e não se contentar com cinco ou seis cenários para ambientar a novela inteira também é urgente. Carlos Casagrande passou uma semana no mesmo quarto de hospital quando o personagem perdeu a memória.
Aliás, o mocinho recuperar a memória após ter sido acertado na cabeça com uma garrafa foi infame. Uma piada antiga e previsível até em desenhos animados.
Aliás, o texto de Marisol é apinhado de lugares-comuns. Vários personagens soltam verdadeiras “pérolas”, como “só não vou gostar de você se tirar o coração do meu peito” ou “estou louca para te amar, mas você só quer me fazer sofrer”.
A trama, por sua vez, é um amontoado de clichês que tem como alvo o público que gosta de não ter surpresas. Por isso, a protagonista, após ter perdido tudo, inclusive o filho e o marido, tem reservado um óbvio final feliz na história. Marisol e Rodrigo devem terminar juntos após tantos desencontros.
Mas o interessante para o SBT não é a qualidade artística e sim o “retorno”. Marisol, por exemplo, tem oferecimento das empresas Ponto Frio e Garnier Colorante Lumia. A publicidade nos intervalos da novela para 15 segundos está na faixa dos R$ 52 mil. E mesmo sendo uma produção sem uma trama glamourosa, Marisol conseguiu atrair anunciantes mais refinados, como Natura e Danone, e não apenas populares, como Casas Bahia e Coca-Cola.
Com a estréia de Pequena Travessa no dia 4 de novembro, Silvio Santos não parece preocupado em elevar o nível de suas produções. A substituta de Marisol vai dar continuidade ao fraco padrão de dramaturgia do SBT. E não adianta chorar o leite derramado.