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Uma viagem muda a vida de uma mulher madura e solitária em ‘Pela Janela’

É uma pena que o júri de Gramado não tenha percebido a qualidade de Pela Janela, deixando de outorgar um só Kikito que fosse – o mais adequado seria o de melhor atriz para Magali Biff – e preferindo canalizar a maioria dos prêmios para Como Nossos Pais.

O filme de Laís Bodanzky é bom e compartilha com o da estreante (em longa) Caroline Leone essa disposição de falar sobre a mulher, e sua luta para se afirmar no mundo. A sutileza é que Como Nossos Pais fala de mulheres num quadro específico – classe média intelectual, alguma proximidade do poder – e o de Carol Leone resgata uma figura que não tem merecido tanta atenção no cinema brasileiro. Pela Janela, que estreia nesta quinta-feira, dia 18, é sobre uma operária, Rosália/Magali Biff, e isso faz toda a diferença.

Nós, o público, somos apresentados a Rosália por meio de sua rotina. Os gestos repetidos na fábrica, onde é responsável por uma linha de montagem, e depois, no duplo expediente, o da casa, onde ela cozinha, lava roupa, cuida do irmão e, para relaxar, borda. Rosália é uma mulher madura, trabalha muito com as mãos. E, de repente, ela perde o emprego, o trabalho que lhe dá identidade.

“O filme é sobre isso. A gente ouve muito que o trabalho dignifica, e é verdade. Queria uma mulher não muito brilhante, mas eficiente, dedicada, para quem o trabalho é tudo. A privação do trabalho a joga para baixo, mas não é o fim de tudo”, reflete a diretora. Na ficção de Pela Janela, Rosália fica tão abalada que o irmão, que tem de partir numa viagem também de trabalho – é motorista -, sente que não pode deixá-la sozinha. Na estrada, Rosália começa apática. Nem percebe o mundo que desfila pela janela do carro. Mas algo se passa, e a vida vem.

“O filme começou a nascer numa viagem que fiz, de ônibus. Conheci essa senhora que havia feito uma viagem que mudou a vida dela. Aquilo ficou anos comigo, porque era uma coisa pequena, mas muito forte, muito densa. Quando parti para o longa, vi que era a história que eu queria contar”, lembra ainda a diretora Caroline Leone.

Convenhamos que não é uma trama 100% original. Sua força vem da simplicidade, e de um detalhe que salta aos olhos desde a primeira cena. Na fábrica, a primeira imagem mostra Rosália refletida na água, que também vai ser personagem. A força da água. Não, a forma, para pegar carona num filme que estará no Oscar.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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