Nascido na mineira Itabira em 31 de outubro de 1902, Carlos Drummond de Andrade ganha homenagens hoje por todo o País – de um poema em sala de aula primária – a um pronunciamento na Academia Brasileira de Letras. Muito também se editou sobre ele durante o ano. Mas entre as edições comemorativas de seu centenário pontifica a obra Coração Partido, de David Arriguci Jr.

Com o subtítulo Uma Análise Reflexiva de Drummond e editado pela Cosac & Naify, o livro traz um estudo iluminador da obra de Drummond que, juntamente com Manuel Bandeira e João Cabral de Melo Neto, forma a tríade dos mais importantes poetas da literatura brasileira.

Iluminador porque, para o crítico literário, o amor como busca de conhecimento que desemboca na poesia é uma máxima na obra drummondiana.

Coração Partido estrutura-se em três partes – 1 – Humor e sentimento, dedicada às análises de Poema de Sete Faces, do livro Alguma Poesia (primeiro livro de Drummond), e Sentimental, da mesma coletânea; 2 – Dificuldades no Trabalho, que traz leituras reveladoras de No meio do caminho, também de Alguma Poesia e Áporo de A Rosa do Povo (1945); e 3 – Amor: teia de problemas, que se debruça sobre um dos grandes poemas amorosos de Drummond, Mineração do Outro, da coletânea Lição de Coisas (1962).

O crítico analisa desde o Poema de sete faces até Mineração do outro – o que cobre o vasto e importante conjunto da obra drummondiana que vai de Alguma Poesia (1930) a Lição de Coisas (1962) – e articulando-os por meio tanto do difícil e truncado caminho (a luta com as palavras) que tem de enfrentar a expressão poética, em Drummond, quanto da junção sempre problemática entre sentimento e pensamento reflexivo. E põe em xeque – ao demonstrar, por exemplo, a complexidade que existe nesta poesia, desde o início – as divisões por vezes estanques atribuídas às diferentes fases da poesia de Drummond pela fortuna crítica – como aquela que se estabeleceu entre o humor inicial e a poesia dita filosófica, ou entre essa e as coletâneas mais marcadas pela preocupação social que a antecederam.

A forma de ironia do poeta interessa de perto à leitura de Davi Arrigucci Jr., por estabelecer já uma relação que vai despontar ao longo de todo o seu livro, nas diferentes análises: a iluminadora junção de sentimento e reflexão, que se mescla igualmente à dificuldade que enfrenta a poesia reflexiva, guiada pelo pensamento, para dar forma e expressão àquilo que não se deixa inteiramente fixar e conhecer.

A segunda parte do livro enfoca esse aspecto da dificuldade. Em No meio do caminho, o movimento reflexivo gira sem saída no círculo das repetições infindáveis; aludindo deste modo à dificuldade que enfrenta a construção da expressão poética, em Drummond – mesma estrutura que, aparecendo nos poemas da coletânea Alguma Poesia, será retomada de forma mais complexa na análise sobre Mineração do Outro.

A leitura desse poema (terceira parte do livro) retoma, numa dimensão mais profunda, algumas questões vistas anteriormente – o sentimento que se mescla à reflexão, a sede de conhecimento que gira em falso, confrontando-se com o seu próprio limite e terminando por expor também os limites da expressão poética na sua tentativa de dar forma ao indizível – ao mesmo tempo em que ilumina emblematicamente a poesia amorosa de Drummond, sem deixar de ser também um estudo dos mais admiráveis sobre a própria natureza da poesia.

O melhor close

Muito se falou e se escreveu sobre Drummond neste seu primeiro centenário, mas o melhor trabalho editorial de massa é a edição deste mês da revista Cult. Para celebrar a vida e a obra do autor de A rosa do povo, reuniu em seu Dossiê textos de alguns de nossos mais expressivos “drummondianos” – publicando ensaios sobre o conjunto de sua obra, sobre as interpretações infinitas de um poema enigmático como No meio do caminho, sobre sua Itabira natal, sobre os grandes livros de crítica literária que tentaram desvendar a poética de Drummond e sobre a pouco conhecida história das adaptações musicais de seus poemas por compositores como Villa-Lobos, Osvaldo Lacerda, Francisco Mignone e Camargo Guarnieri.

Pedra é tema de humor

Hoje é o último prazo (vale data de postagem) para realizar inscrições no 2.º Salão Nacional de Humor Carlos Drummond de Andrade. O evento, uma iniciativa do jornal O Cometa, vai distribuir onze mil reais em prêmios para charge e cartum. O tema é A Pedra e caricatura com o tema Drummond.

Os trabalhos deverão ser enviados para Av. Martins da Costa, 327, sala 111 – Bairro Pará – Itabira/MG – CEP 35900-038. Mais informações no site www.cometaon.com.br ou telefones (31) 3286-2629, (31) 9908-6792 ou 3831-5444.

O resultado do Salão de Humor CDA será divulgado no dia 14 de novembro e no dia 15 acontece a abertura da exposição dos vencedores e dos selecionados, num total de oitenta trabalhos. Além disso, haverá exposição de dez trabalhos de Genin sobre Drummond, dez charges publicadas no O Cometa ao longo de seus 23 anos de existência e mais dez obras vencedoras do 1.º Salão de Humor CDA, em 1982.

A exposição será no Museu de Itabira, no centro histórico da cidade do poeta. Depois deve ir para Belo Horizonte.

Prêmio Diamante

O Grupo Record realiza a primeira cerimônia de entrega do Prêmio Recordista. O livro Limites sem Trauma, de Tania Zagury, sucesso sem limites de público e crítica, receberá o Prêmio Recordista Prata pela venda de cem mil exemplares. Na ocasião, será realizada uma homenagem especial ao escritor Carlos Drummond de Andrade pela relevância do conjunto de sua obra para a cultura brasileira, com a entrega do Prêmio Recordista Diamante. Será dia 6 próximo, às 19h, na Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro.

O Prêmio Recordista tem como principal objetivo reconhecer o talento dos autores nacionais mais vendidos. Lançado em janeiro de 2000, destina-se aos autores que alcançarem números expressivos de vendas com títulos publicados a partir desta data. São três categorias: Recordista Prata para 100 mil exemplares, Recordista Ouro para 200 mil exemplares e Recordista Platina para 300 mil exemplares. A categoria Recordista Diamante prestará homenagem a autores nacionais pela representatividade da sua obra na cultura brasileira.

E na Feira do Livro de Porto Alegre, que começa amanhã e vai até dia 17 (este ano, por sinal, a Câmara do Livro dedica o evento ao Paraná), a Editora Record promove, dias 4 e 5, conferência de Affonso Romano de Sant’anna, autor de Drummond – O Gauche no Tempo, sobre o poeta.

Vozes para Drummond

Adélia Maria Lopes

Reunião – O Brasil dizendo Drummond, realização da gravadora Luz da Cidade, compreende quatro CDs com um total de 148 poesias na voz de personalidades de várias áreas, como política, arte, esporte, literatura e música. Aécio Neves, governador eleito de Minas Gerais, é um dos declamadores. Maior brilho, contudo, conferem Tônia Carrero, Ney Latorraca, Paulo Autran e Chico Buarque.

Do mundo do esporte, o produtor Paulinho Lima contou com a participação de Pelé, que emprestou sua voz para o poema O Futebol. Poetas como Adélia Prado também se fazem presentes. Grato momento verifica-se diante da voz de Roberto Drummond (O Cheiro de Deus), falecido este ano. Do mundo pop participam, entre outros, Gabriel O Pensador e Arnaldo Antunes. Do universo feminino, além da poeta mineira, estão desde a prefeita Marta Suplicy à cantora Zélia Duncan.

De um leque de 148 vozes, Paulinho Lima obteve inclusive a participação do menino – ator Vinícius de Oliveira (Central do Brasil). Mas o que qualquer ator percebe é que ninguém melhor do que Drummond para dizer seus poemas. Com clareza e muita simplicidade, mas tocando no fundo do sentimento, ele declama como quem lê uma carta de amor muito íntima ou ensina o bê-á-bá para uma criança. Só um poeta (de verdade) consegue unir essas duas pontas.

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A caixa Reunião é obtível (50 reais) pelo site www.luzdacidade.com.br.

Olhar panorâmico

A data é lembrada também pela Publifolha, que entre seus títulos destaca o volume Carlos Drummond de Andrade, escrito pelo professor Francisco Achcar, da Unicamp. Para quem nunca leu a poesia de Drummond, o livro serve como uma ótima introdução. Quem já estuda seus poemas pode encontrar ali um roteiro preciso de leitura. E conhecedores mais vividos dos versos do mineiro terão, também, a oportunidade de repassar sinteticamente sua obra, iluminada por comentários e interpretações agudas.

O livro examina detidamente alguns dos melhores poemas de Drummond, retirados da coletânea organizada pelo próprio poeta. Desde a fase inicial, na década de 20, marcada pelo abalo modernista, passando por diversos movimentos culturais e políticos do País, Achcar visita panoramicamente a obra completa de Drummond, escrevendo sempre com uma linguagem clara e analítica.

Seis ensaios

A Unimarco Editora presta seu tributo com o livro Drummond Revisitado, cuja sessão de lançamento acontece hoje, às 19h, na Universidade São Marco, em São Paulo. Escrito por Chantal Castelli, E. Teixeira, Ivone Daré Rabello, Sérgio Alcides e Tarso de Melo, o livro traz uma reflexão crítica dos poemas do aniversariante poeta.

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