“Este disco é tonificado pela contribuição negra”, repara o pesquisador Ricardo Cravo Albim a propósito de O Piano nas Américas (Rob Digital), o 21.º CD de Clara Sverner, paulista descendente de poloneses judeus, que mora no Rio e tem vocação para viver sem fronteiras. Daí talvez o trânsito da pianista pela mistura de sonoridades, sem preconceitos.

Ela gravou quatorze músicas de compositores do Brasil e dos Estados Unidos, datados entre os séculos XIX e XX. E aí se explica o dizer de Albim e ele mesmo completa: “O balanço miscigênico dos tangos (choros) brasileiros de Nazareth; o suingue endiabrado que Scott Joplin intuiu do começo da era do jazz e ainda porque Gottschalk tem um certo cheiro de veemência negra, captados em suas entranhas natais do Mississippi.”

Assim, Scott Joplin faz contraponto com Nazareth; Alexandre Levy e Lorenzo Fernandez evocam o embrionário nacionalismo; o mestre Gershwin entra com três prelúdios. Dois cidadãos do mundo, o americano Gottschalk, com sua Fantasia para o Hino Nacional, e o genial Villa-Lobos completam o CD. Clara pesquisa e recria as peças, molda-as com seu toque e revira a obra de modo que a ninguém cabe mais perguntar se é “erudito ou popular”.

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