Sair da Cidade do Rock pelo portão principal, logo após o final do show do Queen, foi um pesadelo anunciado. As obras do BRT na Avenida Salvador Allende, onde ficam os portões, acabaram estrangulando as vias e tornado estreito demais o caminho para suportar o fluxo das cerca de 80 mil pessoas que deixam o Rock in Rio praticamente juntas. Para quem assistia há poucos minutos os solos de Brian May, era como flutuar em nuvens para logo depois despencar por uma escadaria.
A tensão começou quando a massa se aproximou do pior funil. A passagem se tornou mais estreita, logo depois dos arcos da saída, e a multidão ficou imóvel e compactada. As pessoas se olhavam com tensão como se pensassem todas que estavam por um fio do desastre. Uma fagulha de briga, algo nada difícil no final de uma noite regada pelas bebidas alcoólicas dos patrocinadores, e o pisoteamento seria certo.
Não havia ali rota de emergência, agentes de suporte para organizar as filas, sinalização elevada (para ser vista sobre as pessoas). A produção parecia ter lavado as mãos com relação à segurança dos fãs na saída. Pensou apenas no que ocorria na Cidade do Rock.
Aos poucos, e bem lentamente, a massa passou o gargalo e começou a se deslocar com mais rapidez. Mas o drama não terminou. Dos portões de entrada até o ponto dos ônibus são cerca de 20 minutos caminhando, que às 4h da manhã depois de um longo dia, equivaliam a sete horas e meia.
O caminho, boa parte dele sobre uma rua de terra, seguiu com pouca iluminação mas com policiamento melhor. Foi assim até as plataformas de embarque dos BRTs, onde os ônibus saíram com agilidade. Eles deixaram as pessoas no Terminal Alvorada, na Barra. Muitos deveriam pegar ainda outros ônibus para seguir até seus destinos mais distantes.