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Um ‘Outro lugar’, entre poesia e calmaria

O belo e poético novo disco de Tetê Espíndola, o 18º da carreira, nos conduz para um outro lugar, longe do caos. “Esse disco, para mim, é como se fosse um grito de alerta meu, mas muito sussurrado. Não quero gritar, porque acho que o mundo está muito poluído sonoramente. Então, eu queria que as pessoas parassem um pouco, e pudessem ir para um outro lugar, mais tranquilo”, diz, ao Estado, a cantora e compositora sul-mato-grossense, radicada há mais de 30 anos em São Paulo.

Outro Lugar, o disco, é feito também de deslocamentos geográficos, e de tempo. A gravação começou em Campo Grande, Matogrosso do Sul, com músicos de lá, depois veio para São Paulo, com músicos daqui, e, por fim, foi mixado em Paris. As músicas vieram de caderninhos guardados por Tetê durante décadas. Deles, ressurgiram preciosidades, como Luz e Anzol, com poema do amigo Arrigo Barnabé, de 1979, e Itaverá, do irmão Geraldo Espíndola, de 1974. “Itaverá é a versão original que eu faço. Foi a primeira música que eu aprendi de craviola, Geraldo me ensinou”, lembra Tetê. “Se estou fazendo um disco em que a alma seria a craviola, tenho que colocar essa música. Tenho que colocar todas as musicas que são fortes para mim como craviola – como compositora e arranjadora.”

São canções compostas em diferentes fases da vida da cantora, de 1974 a 2013, mas que, se não fossem essas datas informadas pela própria artista no encarte do disco, poderia se imaginar que elas foram feitas especialmente para o novo álbum. “Seria fácil falar ‘abri meu baú e tirei umas pérolas’. Foi muito mais sensível do que isso. Foi uma coisa que foi acontecendo, comecei a mexer nos meus caderninhos e a encontrar essas músicas… Eu não encontrava, elas que apareciam.”

Tetê as arregimentou e, em dois dias, gravou tudo, só em craviola e voz. Depois, entraram outros instrumentos. A craviola tocada por Tetê é onipresente em Outro Lugar, mas o instrumento é generoso: pode se unir, por exemplo, à cítara e tampura de Tuco Marcondes, na faixa-título Outro Lugar, criando uma deliciosa atmosfera musical indiana; ou mesmo à sanfona de Adriano Magoo, em Itaverá, desenhando um vigoroso clima sertanejo.

Tetê Espíndola interpreta as 12 canções, em diferentes variações vocais, e assina grande parte delas, sozinha ou em parceria, com exceção das já citadas Itaverá, de Geraldo, e Outro Lugar, de seu marido, o compositor Arnaldo Black. Aliás, Tetê, que adora trabalhar com sua família musical, tanto do lado dos Espíndola quanto da parte dos Black, trouxe para esse novo trabalho apenas o primo Gilson Espíndola, que faz participação especial no vocal em Bodoque (parceria de Tetê e de sua amiga Marta Catunda). Mas, olhando bem, há a presença de outros familiares: além de Arnaldo na composição, a filha do casal, a cineasta Patrícia Black, que assina o ensaio fotográfico que ilustra a capa e o encarte.

Com produção musical de Tetê, Adriano Magoo e Sandro Moreno, Outro Lugar tem shows de lançamento em São Paulo, no sábado, 9, e domingo, 10, no teatro do Sesc Pompeia. E sedimenta a versatilidade de Tetê como intérprete, que vai muito além da figura da ‘cantora dos festivais’. “É o disco mais popular que eu já fiz”, diz Tetê. “É um álbum importante que está me colocando num lugar que eu mereço.”

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