Aos 69 anos, o diretor canadense David Cronenberg reinventou seu cinema pela terceira vez. Na primeira, durante a década de 80, ele se tornou o favorito daqueles que gostavam de filmes de terror, chocando o mundo com títulos como “Scanners – Sua Mente Pode Destruir” (1981), “Videodrome – A Síndrome do Vídeo” (1983) e “A Mosca” (1986). Nas duas décadas seguintes, Cronenberg deixou de lado a ficção para focar a natureza destrutiva humana, dirigindo os violentos “Crash – Estranhos Prazeres” (1996), “Marcas da Violência” (2005) e “Senhores do Crime” (2007). Agora, o diretor lança um de seus trabalhos mais maduros, “Um Método Perigoso”, que estreia nesta sexta-feira, explorando o embate entre Sigmund Freud e Carl Jung – e como a partir dele foi fundada a base da psicanálise. Aqui, o foco não é mais a violência e, sim, a mente humana.
Carl Jung é interpretado por Michael Fassbender (de “Shame”) e seu mestre Sigmund Freud, por Viggo Mortensen (de “O Senhor dos Anéis”). Mortensen, aliás, já trabalhou com Cronenberg em “Marcas da Violência” e “Senhores do Crime”, no qual foi indicado ao Oscar de melhor ator. Entre os dois pais da psicanálise, está a bela Sabina Spielrein, papel da atriz inglesa Keira Knightley (a Elizabeth Swann, da franquia “Piratas do Caribe”).
Sabina é uma mulher perturbada e uma das primeiras pacientes curadas por Jung, que acaba se tornando também psiquiatra e amante dele. O caso entre os dois é incentivado por Otto Gross, um psiquiatra psicótico, vivido por Vincent Cassel, em uma pequena participação na trama.
Baseado no livro “A Most Dangerous Method”, de Johnny Kerr, e na peça teatral “The Talking Cure”, de Christopher Hampton, o longa analisa a complexa natureza humana. Porém, apesar de não ser nem ficção nem violento, o resultado deste trabalho continua mantendo uma característica dos filmes de Cronenberg: o aspecto perturbador.
Mais do que explorar a tensão entre Freud e Jung, “Um Método Perigoso” sugere uma diferença entre arianos (Jung) e judeus (Freud) às vésperas da ascensão de Adolf Hitler ao poder na Alemanha, na década de 30. Durante o nazismo, Jung se tornou o maior psicanalista do mundo enquanto Freud ficou exilado em Londres, onde morreu em 1939. Suas quatro irmãs, no entanto, foram proibidas de deixar Viena, na Áustria, e levadas para campos de concentração, onde foram mortas.
Diferenças étnicas à parte, o filme foca também as diferentes interpretações que Jung e Freud tinham da psicanálise. Jung não aceitava a premissa de Freud, de que todo problema psicológico tinha raiz no desejo sexual. Enquanto isso, Freud não aceitava que Jung se enveredasse por um campo místico, analisando fenômenos parapsicológicos. Em meio a toda essa história, surge a judia russa Sabina Spielrein. Após ser curada por Jung, a jovem torna-se psiquiatra e os dois terminam seu romance. Ela passa a se tratar com Freud, acaba rompendo com o pensamento jungiano e seguindo a linha freudiana. As informações são do Jornal da Tarde.